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ARTES PLÁSTICAS
Designer, que lança livro amanhã, critica modismos no ensino e comenta a procura da "cara" nacional
Para Wollner, Califórnia coloniza o Brasil
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os lançamentos de dois livros,
um sobre a trajetória de Alexandre Wollner, amanhã, e outro sobre Aloisio Magalhães, no dia 22, deixam claro como
suas histórias se fundem para traçar a trajetória da vanguarda do
design brasileiro.
A edição bilíngue "Alexandre
Wollner - Design Visual 50 Anos"
ilustra a vida do designer apoiado
em amplo material fotográfico.
Wollner define seu livro como um
"objeto", pelo cuidado com que
foi elaborado.
O designer teve seu talento reconhecido em 1953, ao vencer o
"Prêmio Revelação de Pintura"
da 2ª Bienal de São Paulo, ano em
que conclui sua passagem pelo
Instituto de Arte Contemporânea
(IAC). Em 1954, partiu para Ulm,
na Alemanha, para estudar na Escola Superior da Forma, com Max
Bill, Josef Albers e Johannes Itten.
De volta em 1958, Wollner participou do desenvolvimento do
design no Brasil, ao fundar a Esdi
(Escola Superior de Desenho Industrial), no Rio, com Aloisio Magalhães e Flávio de Aquino.
Fundou também o primeiro escritório brasileiro de design, o
Forminform, em São Paulo, com
Geraldo de Barros, Rubens Martins e Walter Macedo.
Em entrevista à Folha, Alexandre Wollner, 75, fala sobre seu livro, sobre sua carreira, traça um
panorama do design brasileiro e
aponta modismos californianos
no ensino nacional.
Folha - Qual seu interesse em estudar design numa época em que
no Brasil mal se falava nisso?
Alexandre Wollner - Eu já estudava numa escola de design [no
IAC] mas ainda estava totalmente
aéreo, pensando que era gravador. Depois eu descobri que estava fazendo um curso diferente,
sobre design. Eu ajudei a montar
a exposição do Max Bill no Masp
em 1951, antes da primeira Bienal
de São Paulo. Após a montagem,
me deu um "clac", descobri o que
queria fazer. Dois anos depois, [o
professor do IAC Pietro Maria]
Bardi me recomendou para estudar na escola dele, em Ulm.
Folha - E como foi essa experiência de voltar ao Brasil, em 1958?
Wollner - Eu voltei para o Brasil
entusiasmado. Havia um esforço
de promover a cultura brasileira.
Mas fora do país essa identidade é
invisível. Ninguém conhece as
verdadeiras referências culturais
daqui, apenas as que estão absolutamente massificadas. Pelé, café, bunda de mulata, calçada de
Copacabana. Isso é muito difundido, mas não define a cultura.
Folha - E como encontrar então
essa "cara" brasileira?
Wollner - Pois é, essa "cara" encontraríamos dentro de nossas
universidades. Com pesquisas e
auxílio de centros culturais, você
pode procurar um caminho para
essa identidade no design.
Folha - O Brasil tem cerca de cem
escolas de design. É muito para o
mercado?
Wollner - É demais. O próprio
Bardi, quando fez aquela escola
no início dos anos 50, que durou
três anos, percebeu que tinha formado 30 caras e não havia mercado de trabalho para eles. O aluno
não vai ter acesso à indústria.
Folha - Existe um bom diálogo entre os arquitetos e os designers
brasileiros?
Wollner - É difícil. A profissão do
designer não é reconhecida no
Brasil, porque os arquitetos
acham que quem se forma na faculdade Anhembi-Morumbi não
tem a qualidade de alguém que se
forma na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, sendo
que na FAU não tem nem curso
de design. Se perguntam para um
sujeito que só trabalha com design qual é a sua profissão, ele diz
que é arquiteto pelo status. É uma
postura muito provinciana.
Folha - Seu livro pode ser considerado didático?
Wollner - É um livro para o estudo e de informação, não é um livro de lazer.
Folha - É uma coincidência que
dois livros importantes sobre o design sejam lançados apenas agora,
num espaço de um mês entre eles?
Wollner - Eu acho que os livros
estão surgindo no tempo certo,
agora tem um público para isso. O
design gráfico pôde se expandir
porque não está muito preso ao
que é feito no exterior. Ele foi
adiante, tem nível internacional.
Folha - Existe uma tendência no
design brasileiro?
Wollner - Nossas escolas estão
sendo colonizadas por São Francisco, porque o gosto brasileiro se
assemelha ao da Califórnia, sem
compromisso. É uma moda e o
design não tem nada a ver com
moda, e sim com estética, que é
apenas uma parte do design. Nós
estamos "californicados" [risos].
ALEXANDRE WOLLNER - DESIGNER
VISUAL 50 ANOS - Autor: Alexandre
Wollner. Editora: Cosac & Naify. Prefácios
de Décio Pignatari, Goebel Weyne e Laís
Moura Wollner. Versão em inglês:
Stephen Berg. Quanto: R$ 139 (336
págs.). Lançamento: amanhã, a partir de
19h30 no Masp (av. Paulista, 1.578, SP,
tel. 0/xx/11/251-5644).
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