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Gramado exibe "estranho no ninho"
"Vingança", exibido anteontem, tenta "agradar ao público", contrariando foco autoral proposto por festival
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
A segunda noite da mostra
competitiva do 36º Festival de
Gramado, anteontem, exibiu
um estranho no ninho do cinema autoral, vertente da produção que a curadoria da mostra
afirma ser seu foco.
O longa "Vingança", de Paulo
Pons, foi feito "para agradar ao
público, sem dúvida", segundo
o diretor, que assina também o
roteiro, no qual procurou seguir "o esquema de criar expectativa e ter uma virada [na trama] a cada dois minutos".
Pons avalia que "falta comunicação do cinema brasileiro
com o público" e critica o investimento de altas somas de dinheiro por meio das leis de renúncia fiscal em filmes que fracassam na bilheteria.
Em associação com a distribuidora Riofilme, vinculada à
Secretaria Municipal das Culturas do Rio de Janeiro, e com
incentivo de verba da Ancine,
"Vingança" foi realizado com
R$ 80 mil, em formato digital.
A história que Pons buscou
contar com múltiplas viradas é
a de um crime de estupro. A
vingança a que o título se refere
é arquitetada para ser perpetrada à revelia da Justiça e da
própria vítima.
As relações entre vítimas e
algozes se dão em cascata e entrelaçam elementos de crítica
social (a um machismo caricato) e econômica, na forma da
tensão entre classes.
O diretor planeja lançar
"Vingança" nos cinemas em
outubro. Só aí terá o teste ao
qual se dispõe -o do público.
Para os espectadores profissionais que compõem a platéia de
um festival de cinema, "Vingança" exibiu muitas precariedades, como o fato de o autor e
as circunstâncias do crime serem inconvincentes, e a estrutura erguida sobre eles, frágil.
Saturação
A competição entre longas
estrangeiros foi aberta na noite
de segunda pela cineasta argentina Liliana Paolinelli, com
"Por sus Propios Ojos" (pelos
seus próprios olhos), em que
uma jovem estudante de cinema tenta fazer um documentário sobre mulheres de presos.
Paolinelli afirma que, para
elaborar o roteiro, lançou mão
de sua experiência de ex-estudante de cinema e autora do
documentário "Motim" (1997),
cujo tema é o mesmo a que se
dedica a protagonista do filme.
"Quis evidenciar os aspectos
que ficam ocultos num documentário." A diretora intui, porém, provável saturação do público em relação a personagens
à margem, retratados em muitos títulos da safra argentina.
"Não sei se o público não está
cansado. Eu estou um pouco",
diz ela, que afirmou não ter ido
assistir a "Leonera" (mãe leoa),
de seu conterrâneo Pablo Trapero, que estreou na Argentina
após ser exibido em Cannes e
também é ambientado num
cárcere, porque "não queria ver
mais um filme sobre o tema".
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