São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Gramado exibe "estranho no ninho"

"Vingança", exibido anteontem, tenta "agradar ao público", contrariando foco autoral proposto por festival

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

A segunda noite da mostra competitiva do 36º Festival de Gramado, anteontem, exibiu um estranho no ninho do cinema autoral, vertente da produção que a curadoria da mostra afirma ser seu foco.
O longa "Vingança", de Paulo Pons, foi feito "para agradar ao público, sem dúvida", segundo o diretor, que assina também o roteiro, no qual procurou seguir "o esquema de criar expectativa e ter uma virada [na trama] a cada dois minutos".
Pons avalia que "falta comunicação do cinema brasileiro com o público" e critica o investimento de altas somas de dinheiro por meio das leis de renúncia fiscal em filmes que fracassam na bilheteria.
Em associação com a distribuidora Riofilme, vinculada à Secretaria Municipal das Culturas do Rio de Janeiro, e com incentivo de verba da Ancine, "Vingança" foi realizado com R$ 80 mil, em formato digital.
A história que Pons buscou contar com múltiplas viradas é a de um crime de estupro. A vingança a que o título se refere é arquitetada para ser perpetrada à revelia da Justiça e da própria vítima.
As relações entre vítimas e algozes se dão em cascata e entrelaçam elementos de crítica social (a um machismo caricato) e econômica, na forma da tensão entre classes.
O diretor planeja lançar "Vingança" nos cinemas em outubro. Só aí terá o teste ao qual se dispõe -o do público. Para os espectadores profissionais que compõem a platéia de um festival de cinema, "Vingança" exibiu muitas precariedades, como o fato de o autor e as circunstâncias do crime serem inconvincentes, e a estrutura erguida sobre eles, frágil.

Saturação
A competição entre longas estrangeiros foi aberta na noite de segunda pela cineasta argentina Liliana Paolinelli, com "Por sus Propios Ojos" (pelos seus próprios olhos), em que uma jovem estudante de cinema tenta fazer um documentário sobre mulheres de presos.
Paolinelli afirma que, para elaborar o roteiro, lançou mão de sua experiência de ex-estudante de cinema e autora do documentário "Motim" (1997), cujo tema é o mesmo a que se dedica a protagonista do filme.
"Quis evidenciar os aspectos que ficam ocultos num documentário." A diretora intui, porém, provável saturação do público em relação a personagens à margem, retratados em muitos títulos da safra argentina.
"Não sei se o público não está cansado. Eu estou um pouco", diz ela, que afirmou não ter ido assistir a "Leonera" (mãe leoa), de seu conterrâneo Pablo Trapero, que estreou na Argentina após ser exibido em Cannes e também é ambientado num cárcere, porque "não queria ver mais um filme sobre o tema".


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