DA SUCURSAL DO RIO

Fernanda Torres não quer ser uma "atriz de convite". Ela escreveu "Deus É Química" também por isso, para não ficar apenas à espera de bons papéis.
"Mais que escrever, um ator tem que se produzir. Um ator que não se produz está entregue ao convite, e o convite é o fim de um ator", diz.
Neste mês, além da peça, ela estrela "Os Normais 2", continuação do filme inspirado na série homônima da Globo.
"Um bom papel é uma sorte na vida. Com 20 anos, qualquer papel é bom papel. Com 40, você já não quer qualquer papel."
Em "Deus é Química", Fernanda é Eva, mulher de Adão (Luiz Fernando Guimarães).
"É engraçado porque, na peça, eu não escrevi um papel pra mim. Não escrevi o papel para nenhuma outra também. Botei eu com um bando de homem."
O casal está em seu apartamento, e Adão espia um tiroteio da janela, enquanto aguarda o pedido da "pizzaria" -ele pediu 200 gramas de maconha.
O entregador (Francisco Cuoco) é um professor que fez experiências com drogas nos anos 60 e, ao lado de Babadá (Jorge Mautner), vai levá-los do Himalaia à Bolívia, na rota das drogas -"com o humor do Asdrúbal [Trouxe o Trombone, grupo carioca criado nos anos 70] mais o teatro da palavra".
"Quando me dei conta, era uma peça do Asdrúbal", diz Fernanda, que convidou Hamilton Vaz Pereira, fundador do grupo, para a direção. "Ela apresenta de uma forma anárquica, mesmo que organizada, o pensamento anárquico de agora", diz Luiz Fernando.
A comédia, inspirada na biografia de Timothy Leary, no conto "Química da Ressurreição", de Mautner, e na própria experiência de Fernanda, termina com o telefone dos Narcóticos Anônimos. (AF)