São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

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Concretos armados

Intelectuais acham irrelevante novo capítulo da velha disputa entre Augusto de Campos e Ferreira Gullar

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Retomada nas últimas semanas nas páginas da Ilustrada mais de 50 anos após seu início, a desavença entre os poetas Ferreira Gullar e Augusto de Campos é vista por literatos como querela incompatível com a grandeza intelectual de ambos.
Colunista da Folha, Gullar escreveu na Ilustrada de 17/7 ter sido responsável por alertar os poetas concretos de São Paulo, em 1954, para a importância da obra de Oswald de Andrade (1890-1954).
Augusto, expoente do concretismo ao lado do irmão Haroldo de Campos (1929-2003) e de Décio Pignatari, respondeu com um artigo em que contestava a versão e atacava Gullar, que treplicou.
Gullar e os concretistas paulistas iniciaram juntos nessa tendência artística. Estavam lado a lado na 1ª Exposição de Arte Concreta, entre 1956 e 1957, mas romperam nesse mesmo ano por divergências estéticas.
"Para ser cruel, acho que [a polêmica] é falta de assunto. O pior é que é por causa do Oswald, que não é tão decisivo na obra de um nem de outro. É um debate artificial", opina o escritor e crítico Silviano Santiago.
"Não é uma questão teórica nova que está sendo colocada, mas quem são os meus amigos e quem são os seus, o que cada um pensa do outro. Não é o que se espera dos dois possíveis maiores poetas brasileiros vivos", completa.
Para o crítico Antonio Carlos Secchin, professor da UFRJ e acadêmico da ABL, "a celeuma deveria ter sido encerrada, porque o que interessa é a obra, e não esses detalhes -quem disse, quem viu, quem falou-, isso aí se dilui na poeira da história, não é muito relevante".
O poeta e professor da USP Alcides Villaça vê a disputa como sintoma de "pobreza intelectual". "Não tem debate nenhum, é fogo de artifício, diz que diz. Eles jogam lenha na fogueira. Se voltam a brigar, é porque gostam."
O poeta, tradutor e ensaísta Nelson Ascher associa a briga ao conceito freudiano de "narcisismo das pequenas diferenças", pois considera que Augusto e Gullar têm muito mais semelhanças do que discordâncias.
"Muito mais importante do que quem sacou Oswald antes é que Oswald entrou para o panteão -e graças também a eles todos. Essa briga só torna Oswald mais importante."
Mas Ascher vê tudo como estímulo para os octogenários Gullar e Augusto: "Esse quezinho de truculência deve fazer bem à circulação, pra se sentirem jovens e ativos".
Augusto de Campos responde nesta edição à tréplica de Gullar, que declinou de resposta com espaço igual para encerrar a polêmica, conforme recomenda o "Manual de Redação" da Folha.
"Não vou sequer ler esse artigo e nem vou responder a ele", disse Gullar.


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