São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

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Björk abraça a tecnologia em novo CD

"Biophilia" traz aplicativos que relacionam ciência e música e permitem ao usuário criar versões das canções

Cantora diz que experiência interativa de seu novo álbum é como "máquina de pingue-pongue"

Castern Windhorst - 23.jun.11/Divulgação
Björk (de azul, no centro) durante show em Manchester

LUKE TURNER
DA IFA

Uma viagem de 18 horas à Islândia para conversar com Björk sobre seu projeto "Biophilia" é exaustiva, inspiradora e instigante. O avião pousa à 1h, quando o sol mal se escondeu atrás das montanhas nórdicas. Algumas horas de sono são seguidas por uma caminhada pelas ruas silenciosas de Reykjavík, a capital islandesa, até chegar à casa modesta, pintada de preto, em que Björk vive.
Enquanto Björk recebe treinamento vocal, seu assistente James prepara chá de camomila e demonstra a versão completa de "Biophilia" em seu iPad.
Basta dizer que não é nada menos que assombroso. Como usuário, você navega por uma galáxia de estrelas. À medida que cada faixa e aplicativo de "Biophilia" for lançado, aparecerá como um brilho mais forte entre os pontos brilhantes menores. Selecionando um deles, voa-se para dentro de um ponto reluzente que se converte em uma experiência de imersão plena, mais que um simples gatilho para tocar a música.
Descobrem-se coisas sobre elementos distintos da musicologia. É possível interagir com todas as faixas, explorando o funcionamento interno das canções, além de criar versões próprias delas.
Há uma maneira singular e contemporânea de orquestrar música, um ensaio da professora Nikki Dibben explicando a musicologia, fotos da "National Geographic", uma narração de sir David Attenborough...
As 10 milhões de viagens potenciais através de "Biophilia" são quase demais para entender e, quando Björk sai do chuveiro, usando uma linda bata com listras vermelhas e brancas, é difícil fazer qualquer coisa exceto exclamar com entusiasmo arrebatado "uau", "incrível" e "há tanta coisa para descobrir".
Diferentemente de tantos dos novos formatos que nos vêm sendo prometidos nos anos passados desde que a música começou a afundar, "Biophilia" realmente parece radical e futurista.
Ainda mais instigante é o fato de Björk não estar inovando apenas na música mas também no mundo dos aplicativos. Parece certo que, diferentemente de muitos aplicativos que são descarregados, "Biophilia" não será usado apenas uma vez.
Está claro que a cabeça de Björk ainda está totalmente ocupada com "Biophilia". Ela explica o trabalho em uma narrativa que vai aqui, ali e em todas as direções, com falácias lógicas e digressões.

 


Pergunta - Você já disse que sempre foi defensora da música eletrônica. Isto comprova que você consegue fazer arte interativa com música?
Björk -
A maneira fácil de explicar é dizer que você está criando uma espécie de máquina de pingue-pongue. Você diz: "Faça isto cinco vezes, aí vire do avesso, acrescente sete acordes", ou seja lá o que for. Com qualquer som que você insira, ele fará alguma coisa com isso e o fará chegar à outra ponta diferente.

"Biophilia" é, então, um projeto educativo?
Acho que ele é semieducativo. Estou na esperança de que alguém apareça e talvez me ofereça uma colaboração para transformá-lo numa coisa plenamente educativa.

Pelo que pude ver, "Biophilia" permite que as pessoas sejam parte de alguma coisa e que aprendam -por exemplo, sobre ideias científicas. Como você pesquisou essas ideias?
Assisti a muitos DVDs e clipes no YouTube. Decidi não ir longe demais com coisas sobre as quais não tenho conhecimento. Trata-se de simplificar coisas.
Mas assisti a muitos materiais usados em universidades para ensinar a teoria das cordas. Em dado momento, assisti a tantos deles que pensei que talvez, depois de tomar alguns goles, eu fosse capaz de explicar a teoria a alguém. Mas isso foi um ano atrás, eu posso ter esquecido.

"Biophilia" começou a assumir forma depois de seu trabalho, na Islândia, de protesto contra a construção planejada de fábricas de alumínio. Isso significa que "Biophilia" é uma continuação disso?
Eu não diria que é político, mas é sem dúvida uma coisa pró-ativa. Chegamos a colocar um abaixo-assinado on-line em que pedimos ao governo que mantivesse nossos recursos energéticos como propriedade pública. E 25% da população em idade de votar assinou a petição. Foi realmente comovente porque senhorinhas idosas e fazendeiros do norte vieram e cantaram o Hino Nacional, e as pessoas choravam. É estranho para um país pequeno como a Islândia -estamos numa encruzilhada tão grande, não temos infraestrutura.

Tradução de Clara Allain

Biophilia
ARTISTA Björk
LANÇAMENTO Universal
QUANTO US$ 38,33 (cerca de R$ 62), na Amazon


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