São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

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CRÍTICA TERROR

Alex de la Iglesia delira com sequelas do franquismo


LADO DELIRANTE DO FILME NÃO RARO SE REDUZ A EXERCÍCIO DE CHOQUE


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Como quase sempre no cinema espanhol, o terror deriva ou passa pela Guerra Civil e sua sequela: o interminável governo Franco. É inescapável. E, como tal, repete-se em "Balada do Amor e do Ódio", que deu a Alex de la Iglesia os prêmios de melhor direção e roteiro em Veneza no ano passado.
A premiação pode ser vista como uma espécie de manifesto: Tarantino era o presidente do júri, e este é um longa que desenvolve um cinema na tradição popular, cara ao diretor americano.
Mas não só isso. Com efeito, existem ali situações atraentes, como a do início: um "palhaço triste" é convocado, em pleno picadeiro, por um oficial republicano para enfrentar as tropas franquistas.
Após relutar por um instante, ele entra na batalha com uma fúria de lutador de kung fu de filme chinês. E, com seu traje de palhaço, reduz um batalhão do inimigo a nada. Não podia durar para sempre: acaba morto.
Javier, seu filho, seguirá seu destino: entra para um circo na condição de palhaço triste. Lá, o outro palhaço, Sergio, é tão hostil como os combatentes da Guerra Civil.
Há um belo diálogo entre eles: "Por que quis ser palhaço?". "Para não me tornar assassino." "Eu também."
Está dado o tom. Javier e Sergio são dois insanos, cada um à sua maneira. Procurarão, ao longo do filme, situações em que podem tanto matar como morrer. Uma delas atravessará o enredo, pois ambos estão apaixonados pela bela e esquiva acrobata.
Às voltas com a incerteza amorosa, o violento Sergio provocará a reação do inicialmente passivo Javier. A obra oscila, desde então, entre achados felizes (como quando Javier, passando da docilidade à fúria, morde a mão do general Franco) e uma rivalidade amorosa tão tediosa quanto repetitiva.
Mais do que isso: fiel a outra tradição do cinema espanhol, o basco De la Iglesia não hesita em sobrecarregar o filme, levando-o num estilo "grand-guinolesco" que lembra o fim da produtora britânica Hammer (muito sangue e pouca força) e não faz justiça aos momentos em que evoca, por exemplo, "O Fantasma da Ópera" (ou "O Fantasma do Paraíso").
Aqui, o lado delirante não raro se reduz a um exercício de choque bem menos interessante do que promete. Ainda assim, "Balada" é um filme que se deixa ver.

BALADA DO AMOR E DO ÓDIO
PRODUÇÃO Espanha/França, 2010
DIREÇÃO Alex de la Iglesia
COM Carlos Areces, Carolina Bang
ONDE Frei Caneca Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO regular


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