São Paulo, Sexta-feira, 13 de Agosto de 1999
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Exposição no MoMA é menor que o diretor

do enviado a Nova York

Exposições raramente conseguem transpor a riqueza de uma obra de um cineasta para o universo claustrofobicamente limitado por quatro paredes. "Alfred Hitchcock: Behind the Silhouette" (Por Trás da Silhueta), em exibição até 17 de agosto no Museu de Arte Moderna de Nova York, pouco faz para quebrar a regra.
Tem sido rotina o aglomerado de gente na parede oposta à entrada do The Roy and Niuta Titus Theater 1. Antes que algum tesouro hitchcockiano desconhecido, encontra-se lá um telão mostrando trechos de um teledocumentário sobre Hitch.
É a prova maior: as imagens em movimento criadas pelo mestre britânico continuam a superar em fascínio tudo que possa ser coletado para ilustrar a saga de sua produção.
Trata-se sobretudo de uma exposição de papel. O essencial são sequências detalhadas em "storyboard", páginas de roteiro, variadas versões de cartazes e originais da correspondência, pessoal e profissional, de Hitch. Grace Kelly, por exemplo, desculpava-se, em 18 de junho de 1962, por cancelar sua participação em "Os Pássaros".
Alguns objetos de cena procuram, sem maior sucesso, insuflar alguma vida à mostra. Eis aqui a coruja que paira sobre a cabeça de Anthony Perkins em "Psicose". Lá está o original da sequência de sonhos desenhada por Salvador Dalí para "Quando Fala o Coração". Acolá apresenta-se timidamente o trocador de moedas posicionado ao lado do telefone de macabra serventia para Ray Milland em "Disque M para Matar".
Mas os tempos são outros -e a cinefilia não é mais o que era. Dois quiosques de informática, no centro da sala, roubam a cena. É um convite para navegar no CD-ROM "Multimidia Hitchcock", desenvolvido pelo crítico Robert E. Kapris ("Alfred Hitchcock -The Making of a Reputation").
O CD-ROM divide-se em nove partes: perfil biográfico, filmografia (inexplicavelmente sem os maravilhosos telefilmes), dinâmica de colaboração, vendendo Hitch, o legado, Hitchcock sobre Hitchcock e, por fim, sequências clássicas. Estas são apenas 12 -e valem a exposição.
A fase inglesa traz momentos de "Chantagem e Confissão", "Os 39 Degraus" e "O Marido Era o Culpado". Cary Grant descobre material radioativo numa das garrafas de vinho na adega de "Interlúdio". A tentativa de assassinato no Albert Hall londrino pode ser comparado nas sequências quase idênticas das duas versões de "O Homem Que Sabia Demais".
Todo o poder de síntese audiovisual de Hitchcock irrompe na panorâmica clássica de "Janela Indiscreta".
Não poderiam ainda faltar o retorno de Madeleine (Kim Novak) de "Um Corpo Que Cai" e a kafkiana perseguição aérea a Roger Thornhill (Cary Grant) em "Intriga Internacional".
Dois filmes emplacaram duas cenas cada. De "Psicose", os assassinatos coreografados no chuveiro e na escadaria. A corrida por Bodega Bay e o ataque à escola resgatam o clima de pesadelo de "Os Pássaros". Não teria sido mais justo escolher uma de cada e lembrar a subida da escada de Cary Grant em "Suspeita" ou o encontro de Henry Fonda com seu duplo em "O Homem Errado"?
Que a polêmica seja bem-vinda. Não há prova maior da extraordinária vitalidade da obra de Hitchcock. (AMIR LABAKI)


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