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Exposição no MoMA é
menor que o diretor
do enviado a Nova York
Exposições raramente conseguem transpor a riqueza de uma
obra de um cineasta para o universo claustrofobicamente limitado por quatro paredes. "Alfred
Hitchcock: Behind the Silhouette" (Por Trás da Silhueta), em exibição até 17 de agosto no Museu
de Arte Moderna de Nova York,
pouco faz para quebrar a regra.
Tem sido rotina o aglomerado
de gente na parede oposta à entrada do The Roy and Niuta Titus
Theater 1. Antes que algum tesouro hitchcockiano desconhecido,
encontra-se lá um telão mostrando trechos de um teledocumentário sobre Hitch.
É a prova maior: as imagens em
movimento criadas pelo mestre
britânico continuam a superar
em fascínio tudo que possa ser coletado para ilustrar a saga de sua
produção.
Trata-se sobretudo de uma exposição de papel. O essencial são
sequências detalhadas em "storyboard", páginas de roteiro, variadas versões de cartazes e originais
da correspondência, pessoal e
profissional, de Hitch. Grace
Kelly, por exemplo, desculpava-se, em 18 de junho de 1962, por
cancelar sua participação em "Os
Pássaros".
Alguns objetos de cena procuram, sem maior sucesso, insuflar
alguma vida à mostra. Eis aqui a
coruja que paira sobre a cabeça de
Anthony Perkins em "Psicose".
Lá está o original da sequência de
sonhos desenhada por Salvador
Dalí para "Quando Fala o Coração". Acolá apresenta-se timidamente o trocador de moedas posicionado ao lado do telefone de
macabra serventia para Ray Milland em "Disque M para Matar".
Mas os tempos são outros -e a
cinefilia não é mais o que era. Dois
quiosques de informática, no centro da sala, roubam a cena. É um
convite para navegar no CD-ROM "Multimidia Hitchcock",
desenvolvido pelo crítico Robert
E. Kapris ("Alfred Hitchcock -The Making of a Reputation").
O CD-ROM divide-se em nove
partes: perfil biográfico, filmografia (inexplicavelmente sem os maravilhosos telefilmes), dinâmica
de colaboração, vendendo Hitch,
o legado, Hitchcock sobre Hitchcock e, por fim, sequências clássicas. Estas são apenas 12 -e valem
a exposição.
A fase inglesa traz momentos de
"Chantagem e Confissão", "Os 39
Degraus" e "O Marido Era o Culpado". Cary Grant descobre material radioativo numa das garrafas de vinho na adega de "Interlúdio". A tentativa de assassinato no
Albert Hall londrino pode ser
comparado nas sequências quase
idênticas das duas versões de "O
Homem Que Sabia Demais".
Todo o poder de síntese audiovisual de Hitchcock irrompe na
panorâmica clássica de "Janela
Indiscreta".
Não poderiam ainda faltar o retorno de Madeleine (Kim Novak)
de "Um Corpo Que Cai" e a kafkiana perseguição aérea a Roger
Thornhill (Cary Grant) em "Intriga Internacional".
Dois filmes emplacaram duas
cenas cada. De "Psicose", os assassinatos coreografados no chuveiro e na escadaria. A corrida por
Bodega Bay e o ataque à escola
resgatam o clima de pesadelo de
"Os Pássaros". Não teria sido
mais justo escolher uma de cada e
lembrar a subida da escada de
Cary Grant em "Suspeita" ou o
encontro de Henry Fonda com
seu duplo em "O Homem Errado"?
Que a polêmica seja bem-vinda.
Não há prova maior da extraordinária vitalidade da obra de Hitchcock.
(AMIR LABAKI)
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