São Paulo, Sexta-feira, 13 de Agosto de 1999
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Oxford mostra influência nas artes

SYLVIA COLOMBO
de Londres

A recriação digital de passagens de "Um Corpo Que Cai", um vídeo que traduz para os anos 90 "Janela Indiscreta", fotos, colagens, instalações e pinturas inspirados na obra do cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) estão em exposição no Museu de Arte Moderna de Oxford (Inglaterra), para comemorar o seu centenário, até o dia 3 de outubro.
A exposição "Notorius: Alfred Hitchcock and Contemporary Art" mostra como os temas do medo, da obsessão e do voyerismo influenciaram artistas modernos. "Queríamos explicar por que Hitchcock tanto encanta e atrai os artistas plásticos", disse à Folha o curador Kerry Brougher. Leia abaixo os trechos da entrevista.

Folha - Por que Hitchcock num museu de arte moderna?
Kerry Brougher -
Acho que uma coisa que sempre fica nas entrelinhas quando se fala do cinema de Hitchcock é o fato de sua obra lidar com neuroses contemporâneas, seu trabalho esbarra em Freud ao mesmo tempo em que é puro "pulp fiction".
Se analisarmos bem, encontraremos também o que o coloca na pós-modernidade, que é o seu trabalho com o espectador. Hitchcock chama o espectador para dentro do filme, trabalha com a câmara para mostrar que ele está ali e que aquilo é um filme. Esta reflexão sobre o meio que usava é pós-moderna e tem a ver com as discussões sobre artes plásticas que acontecem hoje.

Folha - E como é a exposição?
Brougher -
Trata-se de uma coleção de 14 obras de artistas diferentes, norte-americanos e europeus, com pinturas, fotos, vídeos e instalações, todos realizados a partir dos anos 70 até hoje.

Folha - O trabalho de Hitchcock fazia do espectador cúmplice, dando a impressão de que ele tinha o olho do assassino. Isso acontece aqui?
Brougher -
Talvez não aconteça na prática, mas na teoria. A exposição mostra como o artista se envolveu na questão psicológica inspirada por Hitchcock. Fica a sugestão para o espectador "entrar" no trabalho e se tornar cúmplice.

Folha - A exposição também trabalha com a relação entre Hitchcock e o surrealismo?
Brougher -
Sim, há várias referências. Exibir essa relação foiuma das minhas preocupações. Para mim, "Um Corpo Que Cai" nada mais é do que um filme surrealista. O diretor era muito amigo de Salvador Dalí e também de Luís Buñuel, e menções a eles aparecem constantemente em seus filmes.


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