São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

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Diretor compara conflito à Guerra do Iraque

DE BUENOS AIRES

A aliança entre Reino Unido e Estados Unidos contra a Argentina durante a Guerra das Malvinas não difere muito da realizada entre os dois países na Guerra do Iraque, 21 anos depois. A observação é do diretor de "Iluminados por el Fuego", Tristán Bauer, que também ressalta o outro lado da história: a culpa da ditadura militar de enviar para o combate jovens argentinos com o objetivo de recuperar popularidade. Leia a entrevista de Bauer à Folha. (MP)

 

Folha - Como foi a decisão de fazer um filme sobre um tema tão sensível para os argentinos como a Guerra das Malvinas?
Tristán Bauer -
Eu havia terminado um documentário sobre Eva Perón e dei uma entrevista para um correspondente de uma agência estrangeira [Edgardo Esteban, autor do livro homônimo]. Quando terminou, ele tirou do bolso um livro, me entregou e disse: "Aqui está o seu próximo filme". Tinha a foto dele muito jovem, adolescente, nas Malvinas, e me dei conta de que o agora jornalista era combatente nas ilhas. No final de semana seguinte li o livro e me emocionei. Aí começou o processo para fazer o filme.

Folha - Qual a sua posição pessoal sobre o conflito?
Bauer -
Há dois lados da história. O que aconteceu nas Malvinas é uma parte da história da ditadura militar na Argentina, parte da cadeia trágica de horror, execuções, torturas e desaparecimentos. Mas as Malvinas também são uma radiografia dos efeitos do coronelismo e imperialismo. Como um país poderoso toma um território que não lhe pertence e com o poder das armas o sustenta? Do ponto de vista militar, a aliança que Reino Unido e EUA fizeram em 1982 se parece com a sociedade feita no Iraque 21 anos depois.

Folha - O filme é um caminho diferente no novo cinema argentino, feito de produções mais pessoais?
Bauer -
O novo cinema argentino é um fenômeno bonito, mostra que um país do sul do mundo pode produzir cinema. Mas não é um fenômeno com uma proposta estética única. Se o novo cinema argentino está caracterizado por algo, é por sua diversidade. O filme teve que ser armado como uma grande produção para ser cinema bélico feito na Argentina. Na América Latina não há tradição de cinema bélico. Foi uma nova etapa para mim no sentido de chegar a um bom resultado com poucos recursos econômicos.

Folha - Qual a sua expectativa para a carreira internacional do filme, com um tema tão argentino?
Bauer -
É uma pergunta que me fiz e continuo fazendo. É um filme com uma temática extremamente argentina. Por outro lado, é a visão de um jovem de 19 anos, e suspeito que isso seja universal.


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