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Diretor compara conflito à Guerra do Iraque
DE BUENOS AIRES
A aliança entre Reino Unido e
Estados Unidos contra a Argentina durante a Guerra das Malvinas
não difere muito da realizada entre os dois países na Guerra do
Iraque, 21 anos depois. A observação é do diretor de "Iluminados
por el Fuego", Tristán Bauer, que
também ressalta o outro lado da
história: a culpa da ditadura militar de enviar para o combate jovens argentinos com o objetivo de
recuperar popularidade. Leia a
entrevista de Bauer à Folha.
(MP)
Folha - Como foi a decisão de fazer um filme sobre um tema tão
sensível para os argentinos como a
Guerra das Malvinas?
Tristán Bauer - Eu havia terminado um documentário sobre
Eva Perón e dei uma entrevista
para um correspondente de uma
agência estrangeira [Edgardo Esteban, autor do livro homônimo].
Quando terminou, ele tirou do
bolso um livro, me entregou e disse: "Aqui está o seu próximo filme". Tinha a foto dele muito jovem, adolescente, nas Malvinas, e
me dei conta de que o agora jornalista era combatente nas ilhas.
No final de semana seguinte li o livro e me emocionei. Aí começou
o processo para fazer o filme.
Folha - Qual a sua posição pessoal sobre o conflito?
Bauer - Há dois lados da história.
O que aconteceu nas Malvinas é
uma parte da história da ditadura
militar na Argentina, parte da cadeia trágica de horror, execuções,
torturas e desaparecimentos. Mas
as Malvinas também são uma radiografia dos efeitos do coronelismo e imperialismo. Como um
país poderoso toma um território
que não lhe pertence e com o poder das armas o sustenta? Do ponto de vista militar, a aliança que
Reino Unido e EUA fizeram em
1982 se parece com a sociedade
feita no Iraque 21 anos depois.
Folha - O filme é um caminho diferente no novo cinema argentino,
feito de produções mais pessoais?
Bauer - O novo cinema argentino é um fenômeno bonito, mostra que um país do sul do mundo
pode produzir cinema. Mas não é
um fenômeno com uma proposta
estética única. Se o novo cinema
argentino está caracterizado por
algo, é por sua diversidade. O filme teve que ser armado como
uma grande produção para ser cinema bélico feito na Argentina.
Na América Latina não há tradição de cinema bélico. Foi uma nova etapa para mim no sentido de
chegar a um bom resultado com
poucos recursos econômicos.
Folha - Qual a sua expectativa
para a carreira internacional do filme, com um tema tão argentino?
Bauer - É uma pergunta que me
fiz e continuo fazendo. É um filme
com uma temática extremamente
argentina. Por outro lado, é a visão de um jovem de 19 anos, e suspeito que isso seja universal.
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