São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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NINA HORTA

O blog da Neide Rigo

Agora escreve como escrevia seus e-mails: solta a franga sem necessidade de revisões infinitas

SOU DAQUELE tipo de gente que anda pela vida sempre querendo um sabático para ter tempo de ler, pesquisar e escrever. E, se uma mera semaninha de folga cai no meu colo, começo a procurar coisas perdidas, fazer ponta em lápis, encher caneta-tinteiro, rasgar papéis, tudo que me distraia de meus planos. A minha última "viagem" foi estudar blogs de comida. E tenho lido todos que me caem nas mãos. Qualquer hora volto a eles.
Ultimamente estou encantada com o da Neide Rigo (http://come-se.blogspot.com). Isto é tudo muito subjetivo. Conheço a Neide, sei exatamente quem é ela e mergulho no blog com confiança ilimitada. Vejo que um dia se tornará um livro, mas já volto a ele para complementar pesquisas, sem um segundo de medo de estar numa fonte rasa ou irresponsável.
Afinal, o que é um blog? É uma coleção de pensamentos, de idéias, geralmente sucintas, e são o oposto de uma tese acadêmica com seu jargão, que se dirige somente aos iniciados. (Bom, suponho que possa existir um blog com jargão e somente para iniciados.) E o que é o principal de um blog?
Os seus links. Como o da Neide é muito jovem, creio que ainda é pouco mencionado em outros blogs. Sem links, tudo que se escreve se transforma num diário pessoal, num blog, sem dúvida, porém mais íntimo e virado para dentro.
O que mais? O blog tem que estar constantemente em movimento, editado pelo autor e lido por quem quer...
A Neide sempre foi muito cuidadosa com o que escreve nas revistas, mas, agora, escreve como escrevia seus e-mails, ou melhor, solta a franga, sem necessidade de revisões infinitas. Alguém disse que o blog é um "trail blazer" (lança os caminhos), é o retrato fiel do processo de pesquisa. A minha blogueira do momento tem: freqüência, atualiza todos os dias, brevidade relativa -exceto com receitas que exigem explicação detalhada-, e, last but not least, muita personalidade.
A popularidade vai vir logo. É interpretada não pelo número de pessoas que entram no seu site, mas pelo número de blogs que se ligam a ele. Pensem num cacho de uvas. Um leitor do seu site lê, gosta e se liga a você. Você começa a ler o blog dele e se "linka" a ele. Os leitores de seu blog, que às vezes também são blogueiros, começam a ler sobre os outros blogs. E assim vai se formando um cacho apertadinho de uvas.
O que não se comenta muito nas discussões filosóficas sobre blogs é que devem ser bem escritos e bonitos, mas é preciso. O da Neide é naïf. Ela mesmo fotografa (e muito bem) e sempre foi uma ótima e fluente escritora, uma nutricionista que sabe cozinhar (milagre!), uma pesquisadora acadêmica e obsessiva. Seu hobby é corrigir receitas erradas que fareja a cem metros de distância. Filtra as informações, escolhe assuntos que a interessam.
O blog ainda é bastante pessoal e pode continuar a ser, felizmente não há regras. O perigo seria se tornar excessivamente pessoal, e aí poderia fazer um diário em casa mesmo...
Mas, não, garanto. O blog da Neide está entre o privado e o público. Esse jardim ameno que é só dela contém brechas para que todos metamos nossa colher torta. As da comida, da fitoterapia, da nutrição, do prazer. Apesar de ser intimista, ela coloca tudo dentro de um universo maior. Filtra a esfera pública ao seu redor (o campo, o mercado, a chácara, o jantar de experimentação de vinhos e, por meio deles, expressa a sua personalidade e a de outros, assim como as novidades que aparecem no seu campo).
Exploremos a Neide, a nova blogueira. E mil desculpas pelas 20 e tantas vezes que escrevi blog. Não achei sinônimo.


ninahorta@uol.com.br

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