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NINA HORTA
O blog da Neide Rigo
Agora escreve como
escrevia seus e-mails: solta
a franga sem necessidade
de revisões infinitas
SOU DAQUELE tipo de gente que
anda pela vida sempre querendo um sabático para ter tempo
de ler, pesquisar e escrever. E, se
uma mera semaninha de folga cai no
meu colo, começo a procurar coisas
perdidas, fazer ponta em lápis, encher caneta-tinteiro, rasgar papéis,
tudo que me distraia de meus planos. A minha última "viagem" foi estudar blogs de comida. E tenho lido
todos que me caem nas mãos. Qualquer hora volto a eles.
Ultimamente estou encantada
com o da Neide Rigo (http://come-se.blogspot.com). Isto é tudo muito subjetivo. Conheço a Neide, sei exatamente quem é ela e
mergulho no blog com confiança
ilimitada. Vejo que um dia se tornará um livro, mas já volto a ele para complementar pesquisas, sem
um segundo de medo de estar numa fonte rasa ou irresponsável.
Afinal, o que é um blog? É uma
coleção de pensamentos, de idéias,
geralmente sucintas, e são o oposto
de uma tese acadêmica com seu
jargão, que se dirige somente aos
iniciados. (Bom, suponho que possa existir um blog com jargão e somente para iniciados.)
E o que é o principal de um blog?
Os seus links. Como o da Neide é
muito jovem, creio que ainda é
pouco mencionado em outros
blogs. Sem links, tudo que se escreve se transforma num diário pessoal, num blog, sem dúvida, porém
mais íntimo e virado para dentro.
O que mais? O blog tem que estar
constantemente em movimento,
editado pelo autor e lido por quem
quer...
A Neide sempre foi muito cuidadosa com o que escreve nas revistas, mas, agora, escreve como escrevia seus e-mails, ou melhor, solta a franga, sem necessidade de revisões infinitas.
Alguém disse que o blog é um
"trail blazer" (lança os caminhos),
é o retrato fiel do processo de pesquisa. A minha blogueira do momento tem: freqüência, atualiza todos os dias, brevidade relativa -exceto com receitas que exigem explicação detalhada-, e, last but not
least, muita personalidade.
A popularidade vai vir logo. É interpretada não pelo número de
pessoas que entram no seu site,
mas pelo número de blogs que se ligam a ele. Pensem num cacho de
uvas. Um leitor do seu site lê, gosta
e se liga a você. Você começa a ler o
blog dele e se "linka" a ele. Os leitores de seu blog, que às vezes também são blogueiros, começam a ler
sobre os outros blogs. E assim vai
se formando um cacho apertadinho de uvas.
O que não se comenta muito nas
discussões filosóficas sobre blogs é
que devem ser bem escritos e bonitos, mas é preciso.
O da Neide é naïf. Ela mesmo fotografa (e muito bem) e sempre foi
uma ótima e fluente escritora, uma
nutricionista que sabe cozinhar
(milagre!), uma pesquisadora acadêmica e obsessiva. Seu hobby é
corrigir receitas erradas que fareja
a cem metros de distância. Filtra as
informações, escolhe assuntos que
a interessam.
O blog ainda é bastante pessoal e
pode continuar a ser, felizmente
não há regras. O perigo seria se tornar excessivamente pessoal, e aí
poderia fazer um diário em casa
mesmo...
Mas, não, garanto. O blog da Neide está entre o privado e o público.
Esse jardim ameno que é só dela
contém brechas para que todos
metamos nossa colher torta. As da
comida, da fitoterapia, da nutrição,
do prazer. Apesar de ser intimista,
ela coloca tudo dentro de um universo maior. Filtra a esfera pública
ao seu redor (o campo, o mercado,
a chácara, o jantar de experimentação de vinhos e, por meio deles, expressa a sua personalidade e a de
outros, assim como as novidades
que aparecem no seu campo).
Exploremos a Neide, a nova blogueira. E mil desculpas pelas 20 e
tantas vezes que escrevi blog. Não
achei sinônimo.
ninahorta@uol.com.br
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