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OPINIÃO
Diretor francês fazia análises demolidoras da burguesia
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
Claude Chabrol dirigiu cerca de 80 filmes para o cinema
e para a TV em 52 anos de carreira. Foi o mais prolífico cineasta da nouvelle vague.
É difícil resumir, em poucas linhas, uma obra tão longa e variada. Mas se pode dizer que dois artistas se destacam na formação de Chabrol:
Hitchcock (1899-1980) e Balzac (1799-1850).
Em 1957, o diretor francês,
então crítico dos "Cahiers du
Cinéma", escreveu, em parceria com o cineasta Eric
Rohmer, um influente livro
de análise sobre o cinema de
Alfred Hitchcock.
De Balzac, a quem sempre
se referia como uma influência, herdou o gosto por descrições minuciosas e ácidas
da sociedade.
Seus filmes comumente
usavam o gênero policial ou
de suspense como ponto de
partida para fazer análises
demolidoras da burguesia
provinciana.
Seus temas prediletos
eram a luta de classes e a violência por trás da fachada de
respeitabilidade e sofisticação das elites.
Chabrol disse certa vez:
"Embora eu faça muitos "thrillers", não sou interessado
em trama. O que me interessa
é o mistério, o intrínseco mistério que envolve os personagens (...) acredito muito na
estrutura que nasce do confronto entre personagens".
Se os filmes de Hitchcock
são fatalistas e os personagens parecem presos, desde
o início, a um destino inescapável, nos "thrillers" de Chabrol a tensão vai se revelando
aos poucos, como se ele tirasse, uma a uma, as máscaras
dos personagens.
Quando um entrevistador
perguntou se o filme "Mulheres Diabólicas" (1995), uma
sangrenta parábola da luta
de classes, simbolizava a "sociedade em vias de explodir", Chabrol respondeu:
"Explodir, não. Implodir".
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