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CRÍTICA
Como em um bom suspense, livro destrói visão romântica sobre filmes
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Troque a próxima sessão de
cinema (qualquer uma) pela
leitura de "Filme": ao lado de "O
Gênio do Sistema", de Thomas
Schatz, a esplendorosa reportagem de Lillian Ross sobre os bastidores de "A Glória de um Covarde" expõe detalhadamente o modo de trabalho de Hollywood e
contribui para destruir visões românticas ainda hoje muito populares a respeito de quem (e como)
faz filmes em escala industrial.
Não, não são os diretores, nem
os produtores, os atores ou as
centenas (às vezes, como em "A
Glória...", milhares) de outros
profissionais envolvidos. São todos eles, organizados em cadeia
hierárquica de composição peculiar que gera toda espécie de braço-de-ferro, mas são também, e
talvez acima de tudo, a cultura
corporativa desenvolvida em determinado espaço, a um certo
tempo, e as circunstâncias específicas que pautam a realização de
um longa -algo como o tal "gênio" a que se refere Schatz, citando frase do crítico André Bazin.
Primeiro, Ross gruda em John
Huston, com 44 anos no início do
projeto, em 1950, e um currículo
que já incluía "Relíquia Macabra"
(41), "O Tesouro de Sierra Madre"
(48) e "O Segredo das Jóias" (50).
Tinha um escritório na MGM,
que o tratava como um de seus roteiristas e diretores mais talentosos, e um pé na Horizon, produtora na qual era sócio de Sam Spiegel (produtor de "Sindicato de Ladrões", "A Ponte do Rio Kwai" e
"Lawrence da Arábia"), e que realizaria seu filme seguinte, "Uma
Aventura na África" (51).
À medida que conhece pessoas,
caminhos e salas, Ross vai se soltando de Huston para conversar
com outros personagens da
MGM e de "A Glória de um Covarde". A cidade dos sonhos adquire contornos bem definidos
que ajudam a compreender como
se move a gigantesca engrenagem
dos estúdios -nem bem o filme
começa, por exemplo, e lá vai o
departamento de divulgação
abastecer a imprensa com "informações" que chegam ao conhecimento da equipe de filmagem só
quando saem nos jornais.
No meio do livro, "A Glória..."
já está pronto. O que vem depois?
Justamente as circunstâncias,
sempre elas, que colaboraram para transformar "Filme" num clássico do jornalismo literário. Ross
relata então a crise nos bastidores
e, como em um bom suspense,
deixa as principais explicações
para o final. Foi só ali, na verdade,
que as encontrou.
(SÉRGIO RIZZO)
Filme
Autora: Lillian Ross
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 47 (312 págs.)
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