São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Como em um bom suspense, livro destrói visão romântica sobre filmes

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Troque a próxima sessão de cinema (qualquer uma) pela leitura de "Filme": ao lado de "O Gênio do Sistema", de Thomas Schatz, a esplendorosa reportagem de Lillian Ross sobre os bastidores de "A Glória de um Covarde" expõe detalhadamente o modo de trabalho de Hollywood e contribui para destruir visões românticas ainda hoje muito populares a respeito de quem (e como) faz filmes em escala industrial.
Não, não são os diretores, nem os produtores, os atores ou as centenas (às vezes, como em "A Glória...", milhares) de outros profissionais envolvidos. São todos eles, organizados em cadeia hierárquica de composição peculiar que gera toda espécie de braço-de-ferro, mas são também, e talvez acima de tudo, a cultura corporativa desenvolvida em determinado espaço, a um certo tempo, e as circunstâncias específicas que pautam a realização de um longa -algo como o tal "gênio" a que se refere Schatz, citando frase do crítico André Bazin.
Primeiro, Ross gruda em John Huston, com 44 anos no início do projeto, em 1950, e um currículo que já incluía "Relíquia Macabra" (41), "O Tesouro de Sierra Madre" (48) e "O Segredo das Jóias" (50). Tinha um escritório na MGM, que o tratava como um de seus roteiristas e diretores mais talentosos, e um pé na Horizon, produtora na qual era sócio de Sam Spiegel (produtor de "Sindicato de Ladrões", "A Ponte do Rio Kwai" e "Lawrence da Arábia"), e que realizaria seu filme seguinte, "Uma Aventura na África" (51).
À medida que conhece pessoas, caminhos e salas, Ross vai se soltando de Huston para conversar com outros personagens da MGM e de "A Glória de um Covarde". A cidade dos sonhos adquire contornos bem definidos que ajudam a compreender como se move a gigantesca engrenagem dos estúdios -nem bem o filme começa, por exemplo, e lá vai o departamento de divulgação abastecer a imprensa com "informações" que chegam ao conhecimento da equipe de filmagem só quando saem nos jornais.
No meio do livro, "A Glória..." já está pronto. O que vem depois? Justamente as circunstâncias, sempre elas, que colaboraram para transformar "Filme" num clássico do jornalismo literário. Ross relata então a crise nos bastidores e, como em um bom suspense, deixa as principais explicações para o final. Foi só ali, na verdade, que as encontrou. (SÉRGIO RIZZO)

Filme
    
Autora: Lillian Ross
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 47 (312 págs.)


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