São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

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O gângster vermelho

Historiador inglês narra as aventuras do jovem Stálin, antes da Revolução Russa, que faz 90 anos, e da ditadura

Divulgação
Stálin em imagem feita pela polícia, em 1912, quando foi preso


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos anos antes de sua morte, numa vila às margens do mar Negro, Stálin escreveu: "Historiadores são pessoas que descobrem não apenas fatos enterrados debaixo da terra, mas até os que estão no fundo do mar. E os revelam ao mundo". Depois, registrou uma pergunta para si mesmo: "Você pode manter um segredo?".
Aos 74, às vésperas de deixar para a posteridade a imagem de ditador monstruoso, responsável pela morte de mais 20 milhões de pessoas (as estimativas variam), Stálin acreditava ter eliminado os biógrafos que tentaram registrar seus crimes. Mas devia desconfiar que, um dia, ao menos parte dos horrores que perpetrou em nome de uma revolução viria à tona.
O que ele não imaginava é que, pouco mais de 50 anos após sua morte, um historiador determinado vasculhasse os menores detalhes de suas ações. O britânico Simon Sebag Montefiore, 42, autor da biografia best-seller "Stálin - A Corte do Czar Vermelho" (Cia. das Letras, 912 págs., R$ 72,50), começou estudando o círculo de poder que se formou em torno do ditador.
Depois, com documentos inéditos, como diários e fichas policiais, se propôs a revelar, numa narrativa aventuresca, a trajetória do gângster, líder de quadrilha, poeta, seminarista, cantor de coral, intelectual e mulherengo que Stálin (1878-1953) foi antes de se tornar líder da União Soviética.
"Young Stálin" (jovem Stálin), que acaba de sair no Reino Unido (Weidenfeld & Nicolson) e será lançado no Brasil (sem data definida), traz à tona os atentados e roubos a bancos que cometeu, a transformação do seminarista em revolucionário e o exílio na Sibéria. Narra o que sentiu ao ver o ídolo Lênin pela primeira vez e também como odiou Trótski desde o instante em que o conheceu.
Muitos amigos da adolescência e comparsas de crimes comporiam seu time no governo. Alguns seriam mortos anos depois, sob suas ordens. Surpreendentemente, Stálin se lembrava deles na velhice, com nostalgia pela convivência perdida. Era como se suas mortes tivessem acontecido por conta de uma força maior, a Revolução, que ele abraçou com a fascinação de um extremista.
Às vésperas do aniversário de 90 anos da Revolução, agora em outubro, Sebag Montefiore diz que os historiadores finalmente podem olhar o período sem as pressões e paixões das ideologias.


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