São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Gerald Thomas na praça Roosevelt, pouco antes do espetáculo "A Breve Interrupção"

SATYRIANAS

"Brasileiro adora esmola"

"É o mínimo, cara! O microfone é o mí-ni-mo! Não tô pedindo nada demais!", gritava o diretor Gerald Thomas, anteontem, na praça Roosevelt, minutos antes de apresentar "A Breve Interrupção". O espetáculo, num palco montado dentro de uma tenda com 160 "poltronas" de plástico, abriu o projeto Satyrianas, série com 78 peças gratuitas em SP (só na quinta, depois de Gerald, outros 39 espetáculos foram apresentados até as 5h da manhã de sexta). "Eu levei 30 anos pra ser amador", dizia Thomas, que mora em Nova York e acaba de se apresentar em Córdoba, na Argentina. Enquanto esperava microfones mais altos para a peça, conversou com a coluna:

 

FOLHA - Pode falar agora?
GERALD THOMAS
- Já tô falando.

FOLHA - As Satyrianas não têm patrocínio, não recorrem a leis de incentivos fiscais, o público vê as peças de graça. É uma forma de "protesto" e de criar algo alternativo às mega produções e ingressos caros?
GERALD THOMAS
- Eu não entendo de lei. Entendo de ditadura. E isso está virando uma ditadura xenofóbica e ideológica. Se você pensa como eles, está dentro. Se não, fora.

FOLHA - É um problema só do governo atual ou do modelo de financiamento?
THOMAS
- Olha, eu não sei quem "tá" errado. Você acha que eu vou me meter nessa coisa de partido? A questão é que tem que ter revolução. Na Argentina, por exemplo, o povo é bem mais revolucionário. Aqui, o povo aceita... é... como é o nome disso? [pede ajuda a um membro da produção da peça] É... Bolsa Família! Isso! Esmola! Brasileiro adora esmola.

 

Do lado de fora da tenda, uma moradora de rua, cheirando cola, começa a gritar: "Ahhhhh!" E Thomas: "Será que a briga é por convite? Ou eles pensam que a fila é pra distribuir Bolsa Família? Não! Deve ser o José Dirceu e o [cineasta Luiz Carlos] Barreto correndo!"

 

Às 18h15, Thomas sobe ao palco com microfone -não o que gostaria, porque a produção não conseguiu alugar outro-, começa a discursar e... tropeça numa xícara, o único elemento do cenário. "Isso é merda pra gente", diz. "E eu vou revelar quem tá botando grana aqui. Qual é mesmo a companhia de telefone que está botando grana aqui? Alguém sabe?" A platéia cai na risada e aplaude. "Esse aplauso tá uma merda!" Em seguida, a peça começa: dois críticos de teatro (Alberto Guzik, hoje ator e diretor, e Sérgio Salvia Coelho, da Folha) são amarrados no palco. "Todo crítico merece ser amarrado. Eu sempre quis fazer isso", diz Thomas.

 

A apresentação dura menos de meia hora. Do lado de fora, já se forma fila para os próximos espetáculos. À meia-noite, é quase impossível caminhar pelas calçadas da praça. No meio da multidão, o ator Gero Camilo toma cerveja, o poeta carioca Chacal come milho verde no carrinho de um ambulante, e o diretor Ivam Cabral, um dos organizadores do evento, corre de um lado para o outro.

 

"A gente nunca aceitou patrocínio pra isso, porque um evento com 78 diretores, autores e mais de cem atores custaria mais de R$ 1 milhão. Todos aceitaram trabalhar de graça. E nós somos isso. Fazemos teatro na raça." Em pleno feriado, só uma das sessões de Gerald Thomas lotou. A outra, com menos de 30 espectadores, acabou sendo cancelada.

TURISMO COR-DE-ROSA
De olho no poder aquisitivo e no potencial de consumo dos turistas gays estrangeiros, que gastam 30% a mais que a média, a Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) está realizando, até o dia 17, um tour para jornalistas de veículos americanos, ingleses e franceses voltados ao público homossexual. O roteiro inclui a parada gay do Rio, no domingo, viagens a Búzios e Cabo Frio e passeios em boates GLS como a The Week.

QUASE PRONTO
A biografia de Paulo Coelho, escrita por Fernando Morais, já está à venda -na Feira de Frankfurt. Instalada num estande só dela, Mônica Antunes, agente de Paulo Coelho e agora também de Morais, levou 450 páginas do livro -que ainda não está pronto -para conversar com editoras do mundo todo. "O Mago" vai ser lançado até o fim do ano.

UM MIADO
O catálogo que Mônica apresenta em Frankfurt traz um extrato da biografia. Morais começa relatando o nascimento de um bebê, no Rio, em 1947, que não consegue sair da barriga da mãe, e acaba sendo removido do útero com a ajuda de um fórceps. O médico, ao examinar a criança, escuta "um som leve, similar ao produzido por uma caneta que se quebra". O bebê estava morto, "asfixiado pelo líquido que o tinha protegido por nove meses no corpo de sua mãe". Uma freira foi chamada para as bênçãos finais. De repente, o som "de um miado". Paulo Coelho estava vivo.

O MELHOR REMÉDIO
O espetáculo "Jogando no Quintal" virou DVD, com uma apresentação da competição de palhaços na íntegra e uma série de entrevistas com os atores. A trupe encerra no domingo a temporada no teatro do Colégio Santa Cruz.

EXPORTAÇÃO
A pós-graduação do Hospital do Câncer A.C.Camargo (Fundação Antônio Prudente), que acaba de receber a nota máxima da Capes, vai inaugurar intercâmbio com o instituto do Câncer do Ceará, que enviará a São Paulo vinte médicos selecionados em suas equipes. Os professores daqui também vão passar um tempo lá. O revezamento vai durar quatro anos.

CURTO-CIRCUITO

A ORQUESTRA SINFÔNICA DA USP apresenta "Dominó
Sinfônico", um espetáculo para crianças, hoje, às 11h, na área externa do Auditório Ibirapuera.
O DUO DA VILLA de piano e violão sobe ao palco do teatro Popular do Sesi, na avenida Paulista, hoje, às 12h.
TONINHO FERRAGUTTI apresenta, hoje e amanhã, o show "Nem Sol Nem Lua", no Sesc Santana.
A BANDA BLACK RIO faz show hoje, a partir das 23h, no Grazie a Dio!, na Vila Madalena. Amanhã, é a vez do Sambasonics subir ao palco para tocar samba-rock.
A BODEGA TERRAZAS DE LOS ANDES , do grupo LVMH, serve hoje almoço para os participantes do Meeting Internacional promovido por João Doria Jr., em Mendoza, na Argentina.


com AUDREY FURLANETO,DIÓGENES CAMPANHA, MARIANA BASTOS e DÉBORA BERGAMASCO


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