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Obras lançam olhar humano sobre ditadores
DA REPORTAGEM LOCAL
A fase definitiva da Revolução Russa de 1917, quando
os bolcheviques finalmente
assumiram o poder na Rússia, completa 90 anos no próximo dia 24 de outubro (que
corresponde a 7 de novembro no calendário ocidental).
Foi o golpe final de um processo que começara em fevereiro, quando o czar Nicolau
2º foi afastado e Alexander
Kerensky, nomeado líder de
um governo provisório.
Desde a revelação dos crimes de Stálin por Nikita
Kruschev durante o Congresso Comunista de 1956 e o
posterior fim do chamado
comunismo real, com a queda do Muro de Berlim (1989),
até hoje, a historiografia sobre o tema já passou por várias revisões.
Trabalhos como os de Simon Montefiore e Ian Kershaw, autor de vários livros
sobre Hitler, fazem parte do
novo momento desses estudos. Ao debruçarem-se demasiado nas personalidades
de ambos os ditadores, sofrem acusações de, em algum
grau, humanizá-los. Por outro lado, são trabalhos de rigor com relação aos documentos, praticamente inédito, e com a preocupação de se
apresentarem distantes de
uma ideologia passadista.
Para o professor de história da USP Lincoln Secco, a
partir dos anos 90, a historiografia da Revolução Russa
se "libertou" de dois legados.
"O maior deles foi o socialismo real, implantado em vários países e que sobreviveu
até o fim da União Soviética.
O segundo foi o movimento
comunista internacional,
centralizado e com militantes profissionais dotados de
um tipo de fé laica." Agora
que isso acabou, diz, "ela pode se valer tanto de uma
perspectiva menos apaixonada quanto de uma nova
documentação. Há, todavia,
o fenômeno de histórias de
direita que tentam demonizar o socialismo soviético, o
que também não contribui
para entendê-lo melhor".
Para Secco, a tendência revisionista que pode desculpar os crimes de Stálin não
tem grande influência fora
dos países que eram socialistas. "No Ocidente, pelo contrário, a historiografia corre
mais o risco de julgar a Revolução Russa à luz do que
aconteceu depois. É sintomático que o gênero em que
mais apareçam tais julgamentos é a biografia. É como
se quiséssemos julgar individualmente os líderes daquele episódio."
(SC)
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