FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Figura central no 16º Festival Sesc Videobrasil de Arte Eletrônica, Peter Greenaway pôde ser visto de três formas distintas: como o performer que abriu o festival; com seus curtas, produções para a televisão e os três filmes da série "The Tulse Luper Suitcases"; e na instalação que ocupa todo um andar da sede do evento, no Sesc Paulista.
Greenaway é um dos mais importantes cineastas vivos, com uma poética visual complexa, que deixa a narrativa em segundo plano.
Poucos outros diretores -David Lynch é outro caso- levam o cinema a cumprir sua característica mais básica -ser imagem em movimento, de forma tão radical. Ao relevar a fala e a linearidade, Greenaway esteve sempre próximo da produção experimental de videoarte. Contudo, quando o artista migra do campo onde suas propostas ganharam consistência, o cinema, para distintas formas de linguagem, como a performance e as artes plásticas, aquilo que era radical e original, tornou-se um clichê da produção contemporânea.
Foi assim em sua performance na abertura do festival, quando deu um show de ego, ao editar "ao vivo" cenas de seu filme, tocando numa imensa tela de forma mítica, regendo a tecnologia como Mickey Mouse usava as varinhas no filme "Fantasia".
Sua edição mostrou-se incoerente com o discurso do fim da narrativa, pois tudo que ele fez foi adequar as imagens de seus filmes a três telões e mais uma projeção num outro edifício, parecendo mesmo escolar perto do que VJs atualmente fazem.

Exposição
O mesmo ocorre em sua instalação, em cartaz até o dia 25, composta por quase cem malas, nas quais o personagem Tulse Luper reúne suas coleções. Ao abandonar a imagem em movimento para criar objetos, Greenaway cria um conjunto curioso e obsessivo, que se encerra nesses dois adjetivos.
Felizmente, o festival trouxe sua principal produção, os filmes que o tornaram um dos pilares do cinema contemporâneo, e que podem ser vistos até o dia 19, compensando os deslizes nas inserções em outras áreas.