São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

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Livros para celular viram hit no Japão

Obras com estilo literário dos mangás vendem milhões e ganham versões em papel e adaptações nas telas

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para os enamorados do papel, tradicional suporte dos livros, pode parecer bizarra a perspectiva de acompanhar um bom texto em uma minúscula telinha de 160 caracteres.
Mas, para a jovem geração que ganhou a alcunha de "tribo do polegar" por sua familiaridade com aparelhos portáteis (celulares, joysticks, iPods etc.), a novidade é apenas um passo lógico na evolução das coisas: literatura, agora, é lida nas telas de telefones portáteis.
Como de hábito quando o assunto são fenômenos tecnológicos, a novidade dos livros para celular estourou primeiro no Japão -e "estourou" é o termo adequado para descrever como um mercado inexistente há cinco anos passou a faturar US$ 82 milhões (cerca de R$ 147 milhões) até o ano passado, com estimativa de chegar a US$ 200 milhões (R$ 358 milhões) neste ano, segundo dados da maior operadora de celulares do Japão, a NTT DoCoMo.
O primeiro best-seller do gênero, "Amor Profundo", do autor conhecido apenas como Yoshi, fez tamanho sucesso nas telinhas que foi publicado como um livro tradicional (vendendo 2,6 milhões de cópias) e gerou adaptações para cinema e TV. Histórias de autores populares, como Mica Naitoh, são baixadas para os celulares 160 mil vezes por dia, em média.
Cinco dos dez livros de ficção mais vendidos no Japão no primeiro semestre deste ano começaram como obras para os portáteis, com vendas médias de 400 mil cópias.

Público feminino
As editoras japonesas chutaram para todo lado antes de acertar a veia deste mercado.
Primeiro foram oferecidas versões de autores já famosos, sem sucesso -o público dos "keitai shosetsu", como são conhecidos os livros para celular no país, não eram leitores tradicionais que migraram para outra plataforma, mas a geração acostumada ao ritmo rápido, curto e direto dos mangás, as HQs japonesas, sem muitas tramas paralelas ou caracterização dos personagens.
A segunda tentativa foi com a pornografia, também com resultados pífios, pois os leitores de celular eram em sua maioria garotas adolescentes e mulheres de seus 20 e poucos -as mesmas que lideram o envio de mensagens de texto.
Hoje em dia, a máquina está bem azeitada. Mistério e romance vendem bem: o estilo das histórias é bastante cru e inexiste qualquer avanço sobre a psicologia dos personagens. "Love Sky", um dos best-sellers atuais (1,3 milhão de cópias), trata de um garoto que tem câncer e termina com a namorada para poupá-la do sofrimento com sua doença.
Não por acaso, muitos acadêmicos e críticos japoneses afirmam que os livros para celular não merecem ser classificados como literatura.


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