São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2007

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depoimento

Nossa geração vai perdendo sua infantaria

FERNANDA MONTENEGRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Paulo e eu trocamos cartas recentemente. Tinha enviado a ele algumas fotos de "Guerra dos Sexos" e recebi de volta um texto curto, mas muito amoroso, em que ele diz que tinha parado... Bateu-me um sentimento de finitude, uma coisa muito forte, estressante, dura, terrível.
Mas depois o achei muito feliz naquelas palavras. Ele dizia que tinha parado a vida de ator fazendo Molière, com casa cheia.
Aquela felicidade de ator que é amado, entendido pelo povo, com uma história no teatro. "Eu terminei, Fernanda, na glória." Assisti a quase tudo que o Paulo fez. Nunca trabalhamos juntos no palco. Porque a gente tem sonhos de lidar com alguns colegas, mas uma vida é pouco. Sabe-se que um dia a gente "vai", mas é só na hora que nos damos conta do forte sentimento de baixa numa geração como a nossa; um exército que vai perdendo sua infantaria. Como o Paulo, o Raul Cortez, o Gianfrancesco Guarnieri, todos companheiros muito queridos.


FERNANDA MONTENEGRO , 77, é atriz


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