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Crise deixa mercado de shows em alerta
Programação de 2008 não deve sofrer alterações, mas produtores já estão reavaliando convites para temporada de 2009
Profissionais apontam pressão de custos com valorização do dólar, mas procuram alternativas para não aumentar os ingressos
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise econômica deflagrada
nos Estados Unidos já atinge a
"economia real" do entretenimento brasileiro. Empresários
e produtores de shows estão tomando medidas para evitar
prejuízos financeiros com a alta do dólar -a moeda tem se valorizado com a crise e fechou
em R$ 2,326 na sexta-feira.
Entre essas medidas, está a
suspensão da contratação de
artistas internacionais.
"Tivemos que suspender três
negociações que estavam em
andamento", afirma William
Crunfli, sócio da produtora
Mondo (alguns artistas que a
empresa já trouxe ao Brasil:
Coldplay, RBD, Muse, Bob
Dylan, High School Musical,
Iron Maiden; artistas que trará
ao Brasil: REM, Offspring).
"Para 2008, já estamos com o
calendário fechado", diz.
Mesmo produtores que já fecharam contratos para shows
neste ano sofrem com a desvalorização do real. Normalmente, as bandas internacionais recebem cerca de 50% do valor do
cachê na assinatura do contrato e o restante poucos dias antes da apresentação.
Questionada pela Folha se a
crise econômica prejudica o
Tim Festival, Monique Gardenberg, da produtora Dueto,
respondeu: "Enormemente".
(O Tim Festival acontece no
Rio de Janeiro, em São Paulo e
em Vitória no final deste mês.)
Já André Barcinski, proprietário do clube Clash, local que
receberá até o final do ano DJs
como Laurent Garnier (França) e Dave Clarke (Inglaterra),
afirma que a casa teve cerca de
40% de aumento no custo dessas negociações.
"Os contratos são fechados
tendo o dólar como moeda de
referência. Grande parte do cachê será paga quando esses artistas desembarcarem no país.
E o aumento do dólar influi não
apenas no cachê, mas nas passagens aéreas, impostos, vistos
de entrada no país..."
Ingressos
Quando o custo de um produto sobe, normalmente é o
consumidor quem paga por isso. No caso dos shows, algumas
produtoras descartam o aumento no preço dos ingressos.
"Não vamos passar para o
preço dos ingressos, que já estão no teto", afirma Crunfli. E
como equacionar isso?
"Vai bater na porta dos artistas", afirma o sócio da Mondo.
"Todos vão ter que ganhar menos, inclusive os artistas. Eles
vão ter que entender a situação
e ganhar menos."
Se em 2008 São Paulo recebeu/receberá quantidade expressiva de grandes shows e
festivais (Motomix, Orloff Five,
Skol Beats, About Us, Helvetia
Music Festival, Häagen-Dazs
Mix Music, Tim Festival, Planeta Terra, Nokia Trends, Madonna, REM, Kylie Minogue,
Duran Duran, Interpol, Bob
Dylan etc.), para 2009 a expectativa é bem mais tímida.
"Para o ano que vem, a questão do dólar vai afetar", aponta
Bazinho Ferraz, presidente da
B/Ferraz (produtora de Skol
Beats, GAS Festival, Planeta
Terra e que planeja montar um
novo festival em 2009).
Para Ferraz, a retração no
mercado de shows ocorrerá
não apenas no Brasil, mas na
Europa e nos EUA.
"As bandas internacionais terão menor demanda. Esse é o
cenário positivo, pois a agenda
dessas bandas não estará tão
cheia e será mais fácil achar datas para elas virem ao Brasil. O
lado negativo é que o dólar tende a ficar em alta e nossos custos aumentarão."
Patrocínio
Os grandes festivais de música pop no Brasil são bancados
em grande parte por empresas
privadas. Esse suporte financeiro diminuirá com a falta de
liquidez no mercado?
"Compartilho da visão de que
o Brasil está mais forte hoje,
com boas condições para manter seu crescimento apesar da
crise financeira americana, que
tem conseqüências mundiais",
diz Gardenberg. "E as empresas
privadas não devem olhar só
para fora, temos muitas coisas
bacanas aqui no Brasil que precisam ser produzidas, que precisam circular. Talvez essa crise venha a provocar esse olhar
para dentro."
Para Bazinho Ferraz, "vai ficar mais caro [o custo desses
festivais]. Mas as empresas não
vão deixar de fazer festivais.
Em vez de termos eventos sustentados apenas por uma marca, aparecerão festivais bancados por vários patrocinadores".
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