São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Pintor gaúcho ganha mostra na galeria André Millan com 80 obras e novo livro dedicado à sua produção

Retrospectiva traz todas as fases de Iberê

RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO

Uma embriaguez de Iberê Camargo. No mínimo, vai ser esse o resultado da mostra que a Bolsa de Arte abre hoje, no espaço que passa a dividir com a galeria André Millan, em São Paulo.
O espectador que percorrer as salas da casa (uma construção de 1949, projeto de Vilanova Artigas) vai se deparar com quase uma centena de obras de todas as fases do pintor gaúcho, nome máximo do expressionismo no Brasil. Uma mostra que, pelo volume e pela extensão, pode estar em qualquer museu brasileiro.
Talvez com uma ressalva. Mesmo em um espaço maior, seria difícil, em termos museológicos, incluir um número tão grande de obras. Mas esse excesso não poderia ser fonte de certa confusão?
"Optamos por uma montagem carregada, um pouco como as obras de Iberê. Tínhamos a opção de fazer escolhas mais pontuais e valorizar os espaços entre os trabalhos. Mas, como São Paulo está há anos sem ver uma mostra dele, escolhemos incluir tudo", diz o galerista André Millan.
Outra, digamos, curiosidade da exposição é o fato de, se tratando da reabertura de uma galeria comercial importante que passa a dividir o espaço com uma tradicional casa de leilões, não ter nenhuma obra à venda.
"Temos intenção de fazer mostras em homenagem aos modernistas brasileiros, que andam meio esquecidos", diz Jones Bergamin, da Bolsa de Arte.
Toda a trajetória do pintor gaúcho está representada na mostra. Desde seu início paisagista, nos anos 40, quando foi aluno de Guignard no Rio, até as últimas séries dos "Ciclistas" (anos 80), passando pelas séries "Negra" e dos "Carretéis" (anos 50) e as composições mais abstratas dos anos 60 e 70. Além de pinturas, há ainda gravuras e guaches.
A trajetória de Iberê também é o tema do livro com o nome do pintor editado por Silvia Roesler, com monografia, cronologia e bibliografia, além de reproduções.
Em seu ensaio de quase 50 páginas para o livro, o crítico carioca Paulo Venancio Filho sustenta a tese de que não há exatamente ruptura entre o início da carreira e os trabalhos mais maduros.
"Há uma unidade muito intensa e veemente na obra dele, que não passa pelos clichês figurativo-abstratos. Ainda há muito a se dizer, mas procurei mostrar essa continuidade. O trabalho não oscila entre dois pólos, ele já nasce da crise entre esses dois pólos", diz Venancio Filho, que situa Iberê no contexto do modernismo brasileiro de extração européia, com influência da Escola de Paris.
"Nos anos 80, a pintura dele vai tomar uma atualidade muito grande porque "retoma" a figuração. Nesse momento, artistas mais jovens, como Jorge Guinle Filho, passam a se referir a ele."


RETROSPECTIVA IBERÊ CAMARGO - exposição com cerca de 80 obras do pintor expressionista gaúcho (1914-1994). Onde: galeria André Millan/Bolsa de Arte (r. Rio Preto, 63, Cerqueira César, SP, tel. 0/xx/11/3062-5722). Quando: vernissage hoje, às 19h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 2/2. Quanto: entrada franca.

IBERÊ CAMARGO - livro sobre o artista. De: Paulo Venancio Filho. Pesquisa: Ana Holck. Edição: Silvia Roesler/Instituto Cultural The Axis. Patrocinador: banco Pactual. 204 págs., R$ 150.


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