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ARTES PLÁSTICAS
Pintor gaúcho ganha mostra na galeria André Millan com 80 obras e novo livro dedicado à sua produção
Retrospectiva traz todas as fases de Iberê
RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO
Uma embriaguez de Iberê Camargo. No mínimo, vai ser esse o
resultado da mostra que a Bolsa
de Arte abre hoje, no espaço que
passa a dividir com a galeria André Millan, em São Paulo.
O espectador que percorrer as
salas da casa (uma construção de
1949, projeto de Vilanova Artigas)
vai se deparar com quase uma
centena de obras de todas as fases
do pintor gaúcho, nome máximo
do expressionismo no Brasil.
Uma mostra que, pelo volume e
pela extensão, pode estar em
qualquer museu brasileiro.
Talvez com uma ressalva. Mesmo em um espaço maior, seria difícil, em termos museológicos, incluir um número tão grande de
obras. Mas esse excesso não poderia ser fonte de certa confusão?
"Optamos por uma montagem
carregada, um pouco como as
obras de Iberê. Tínhamos a opção
de fazer escolhas mais pontuais e
valorizar os espaços entre os trabalhos. Mas, como São Paulo está
há anos sem ver uma mostra dele,
escolhemos incluir tudo", diz o
galerista André Millan.
Outra, digamos, curiosidade da
exposição é o fato de, se tratando
da reabertura de uma galeria comercial importante que passa a
dividir o espaço com uma tradicional casa de leilões, não ter nenhuma obra à venda.
"Temos intenção de fazer mostras em homenagem aos modernistas brasileiros, que andam
meio esquecidos", diz Jones Bergamin, da Bolsa de Arte.
Toda a trajetória do pintor gaúcho está representada na mostra.
Desde seu início paisagista, nos
anos 40, quando foi aluno de
Guignard no Rio, até as últimas
séries dos "Ciclistas" (anos 80),
passando pelas séries "Negra" e
dos "Carretéis" (anos 50) e as
composições mais abstratas dos
anos 60 e 70. Além de pinturas, há
ainda gravuras e guaches.
A trajetória de Iberê também é o
tema do livro com o nome do pintor editado por Silvia Roesler,
com monografia, cronologia e bibliografia, além de reproduções.
Em seu ensaio de quase 50 páginas para o livro, o crítico carioca
Paulo Venancio Filho sustenta a
tese de que não há exatamente
ruptura entre o início da carreira e
os trabalhos mais maduros.
"Há uma unidade muito intensa e veemente na obra dele, que
não passa pelos clichês figurativo-abstratos. Ainda há muito a se dizer, mas procurei mostrar essa
continuidade. O trabalho não oscila entre dois pólos, ele já nasce
da crise entre esses dois pólos",
diz Venancio Filho, que situa Iberê no contexto do modernismo
brasileiro de extração européia,
com influência da Escola de Paris.
"Nos anos 80, a pintura dele vai
tomar uma atualidade muito
grande porque "retoma" a figuração. Nesse momento, artistas
mais jovens, como Jorge Guinle
Filho, passam a se referir a ele."
RETROSPECTIVA IBERÊ CAMARGO -
exposição com cerca de 80 obras do
pintor expressionista gaúcho (1914-1994). Onde: galeria André Millan/Bolsa
de Arte (r. Rio Preto, 63, Cerqueira César,
SP, tel. 0/xx/11/3062-5722). Quando:
vernissage hoje, às 19h; de seg. a sex.,
das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até
2/2. Quanto: entrada franca.
IBERÊ CAMARGO - livro sobre o artista.
De: Paulo Venancio Filho. Pesquisa: Ana
Holck. Edição: Silvia Roesler/Instituto
Cultural The Axis. Patrocinador: banco
Pactual. 204 págs., R$ 150.
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