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CRÍTICA
Perigo do parentesco é evitado
DO ENVIADO AO RIO
Pode-se confiar numa biografia de um homem importantíssimo, vivo e bem velhinho,
feita por sua neta? A resposta mais
provável seria não, mas Stella
Caymmi fugiu com mérito da armadilha em "O Mar e o Tempo".
Trata-se de uma biografia saborosíssima, principalmente quando adota tom romanceado, lírico
à moda dos versos amorosos do
grande artista, oscilante entre o
galhofeiro e o descontraído.
Isso acontece principalmente
no início do livro, e aí a escritora
forja metodologia para bem equilibrar naturais afetividade e idolatria pelo avô com o sem-fim de
seus feitos e aventuras. O pique se
mantém pelas 400 primeiras páginas, que, embora quase nunca
analíticas, organizam e clareiam o
conhecimento sobre Caymmi.
O enredo sobressai pelo nível de
desabuso (em se tratando da biografia de um "inquestionável",
por isso mesmo política demais),
como quando insinua pendengas
com Silvio Caldas, o desagrado de
Caymmi com a gravação de Gal e
Bethânia para "Oração de Mãe
Menininha", barracos gerais no
seio da musical família Caymmi...
O livro só cai em rendimento na
parte final, em que, talvez por descrever o segmento vivido de perto
pela biógrafa, se torna irritantemente detalhista. É claro que então Caymmi estava só colhendo
os frutos da longa e inteiriça história, mas talvez a diminuição de
sua participação nos acontecimentos cotidianos da MPB justificasse uma passagem mais breve e
menos relatorial pelo período.
Mas não é algo que atrapalhe a
fluência do trabalho. A história da
música brasileira entre o final dos
anos 30 e o novo século está recontada sob ângulo inédito e privilegiado, o do mais permanente e
jovem dos artistas "antigos".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
O Mar e o Tempo
Autora: Stella Caymmi
Editora: 34
Quanto: R$ 75 (632 págs.)
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