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Crítica/"O Engenho de Zé Lins"
Diretor restaura "engenhos" físico e emocional do autor
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
"A nostalgia é a saudade daquilo que a
gente teve e que
acabou. A melancolia é a saudade daquilo que a gente não teve." A bela definição, expressa
por Carlos Heitor Cony em um
depoimento a Vladimir Carvalho, é uma entre as várias iluminações que o documentarista
paraibano lança sobre seu conterrâneo José Lins do Rego em
"O Engenho de Zé Lins".
Trata-se, de fato, de um trabalho de memória, no qual o
ponto de partida é a constatação de um esquecimento: na cidade natal do escritor, nenhum
dos alunos de uma escola que
leva seu nome sabe responder
quem foi José Lins, muito menos leu alguma de suas obras.
Será então função das imagens mas também dos depoimentos (de familiares, amigos e
contemporâneos) reconstruir
o personagem. Como estamos
no domínio particular da forma
documentário de Vladimir
Carvalho, não é o caso de esperar um retrato oficial, biográfico, de seu objeto.
Como já deixa claro o título, é
o "engenho" de José Lins que
Carvalho vai restaurar aos nossos olhos. O engenho físico, espaço social e econômico de produção do açúcar no Nordeste,
do qual o escritor gravou para
sempre a forma, o sentimento e
a decadência em clássicos como "Menino de Engenho" e
"Fogo Morto". E o engenho
mental, domínio estético e
emocional que garantiram a
José Lins um lugar excepcional
na literatura brasileira.
Nesta duplicidade de sentido, Carvalho avança pela história de seu personagem, recupera suas peculiaridades e paixões e, ao mesmo tempo, reencontra uma mitologia (a do
Nordeste rural, com suas belezas escondidas e suas injustiças) que assombra seu próprio
trabalho, desde "A Bolandeira"
(1967), passando pelo essencial
"O País de São Saruê" (1971),
até "O Homem de Areia" (1982)
e "O Evangelho Segundo Teotônio" (1984).
Mais que personagem importante, portanto, este Zé Lins
é um retorno a um espaço (a
Paraíba), que Carvalho nos
mostra com nostalgia. O impacto maior, contudo, é quando
ele nos leva a ver um tempo, hoje superado, enterrado e arruinado, para o qual só reserva a
pura melancolia.
O ENGENHO DE ZÉ LINS
Produção: Brasil, 2006
Direção: Vladimir Carvalho
Quando: estréia amanhã no cine Reserva Cultural
Avaliação: ótimo
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