São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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Nos EUA, casa carente vira mansão dispendiosa

Reformas megalomaníacas e histórias tristes marcam "Extreme Makeover"

E-mail de funcionário de emissora que vazou em site elenca desgraças desejáveis para candidatos a ganhar benefícios do programa

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O principal representante da corrente assistencialista na TV americana está no ar desde 2003. "Extreme Makeover Home Edition" (exibido no Brasil pelo canal People + Arts) é um reality show que faz reformas em casas de famílias pobres que enfrentam tragédias pessoais ou problemas de saúde.
Quase uma central de solução de problemas, os produtores vão além das reformas megalomaníacas e oferecem ajuda em outros aspectos da vida dos moradores, como recursos para educação dos filhos.
O formato do programa é simples: uma família é escolhida por conta da história pessoal, que é contada no início do quadro. Os donos da casa são mandados para uma semana de férias pagas, enquanto a equipe se reúne com construtores e voluntários para a reforma.
O programa já atraiu celebridades, como os roqueiros do Kiss, e instituições de caridade dispostas a contribuir.
A diferença em relação aos quadros exibidos no Brasil com formato similar é que as casas viram mansões, com quartos temáticos e eletroeletrônicos variados. A dúvida que fica é como as famílias sem recursos vão arcar com a manutenção.
Durante a crise econômica que explodiu no ano passado, os donos de uma casa em Atlanta reformada pelo quadro tiveram de levá-la a leilão após usarem a residência como garantia de um empréstimo.
A receita de reformas de casas está presente em uma gama de programas na TV americana, mas o diferencial do "Extreme Makeover" é o chamado fator humano. No ano passado, a audiência superava os 10 milhões de espectadores e ele era exibido em mais de 60 países.
Segundo análise do Bleier Center for Television and Popular Culture, o que está por trás do sucesso do programa é a ideia de superação pessoal de adversidades, um aspecto da cultura americana.
São histórias como as de Delores Powell, de Buffalo, imigrante da Jamaica que se mudou para os EUA em busca do tal "sonho americano". Depois de se tornar cidadã americana, ela comprou uma casa de seis quartos para os quatro filhos. O vendedor não informou que o imóvel estava na lista de demolição da prefeitura. Ela ficou com o imóvel, mas não conseguiu fazer os consertos.
O programa não está livre de polêmicas. Em 2006, um site divulgou e-mail de um funcionário do canal do programa elencando as desgraças desejáveis no perfil dos personagens do programa. A lista incluía desde vítimas de crimes de ódio a casas assaltadas e crianças com insensibilidade à dor.
Outros programas em exibição também já lançaram mão da fórmula da superação pessoal, como o da apresentadora Oprah Winfrey. Ela já comandou gincanas na TV em que o vencedor era aquele que ajudasse mais pessoas carentes.
Mas na TV americana cabe ajuda para todos os bolsos e problemas. Ainda está no ar o "Find My Family" (encontre minha família), que promove o encontro de parentes. Há ainda o "The Biggest Loser", um programa de emagrecimento que, além de atrair pessoas fora do peso, atrai famílias pobres que não têm como arcar com o tratamento contra obesidade.


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