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Nos EUA, casa carente vira mansão dispendiosa
Reformas megalomaníacas e histórias tristes marcam "Extreme Makeover"
E-mail de funcionário de emissora que vazou em site elenca desgraças desejáveis para candidatos a ganhar benefícios do programa
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
O principal representante da
corrente assistencialista na TV
americana está no ar desde
2003. "Extreme Makeover Home Edition" (exibido no Brasil
pelo canal People + Arts) é um
reality show que faz reformas
em casas de famílias pobres que
enfrentam tragédias pessoais
ou problemas de saúde.
Quase uma central de solução de problemas, os produtores vão além das reformas megalomaníacas e oferecem ajuda
em outros aspectos da vida dos
moradores, como recursos para educação dos filhos.
O formato do programa é
simples: uma família é escolhida por conta da história pessoal, que é contada no início do
quadro. Os donos da casa são
mandados para uma semana de
férias pagas, enquanto a equipe
se reúne com construtores e
voluntários para a reforma.
O programa já atraiu celebridades, como os roqueiros do
Kiss, e instituições de caridade
dispostas a contribuir.
A diferença em relação aos
quadros exibidos no Brasil com
formato similar é que as casas
viram mansões, com quartos
temáticos e eletroeletrônicos
variados. A dúvida que fica é como as famílias sem recursos
vão arcar com a manutenção.
Durante a crise econômica
que explodiu no ano passado,
os donos de uma casa em Atlanta reformada pelo quadro tiveram de levá-la a leilão após usarem a residência como garantia
de um empréstimo.
A receita de reformas de casas está presente em uma gama
de programas na TV americana, mas o diferencial do "Extreme Makeover" é o chamado fator humano. No ano passado, a
audiência superava os 10 milhões de espectadores e ele era
exibido em mais de 60 países.
Segundo análise do Bleier
Center for Television and Popular Culture, o que está por
trás do sucesso do programa é a
ideia de superação pessoal de
adversidades, um aspecto da
cultura americana.
São histórias como as de Delores Powell, de Buffalo, imigrante da Jamaica que se mudou para os EUA em busca do
tal "sonho americano". Depois
de se tornar cidadã americana,
ela comprou uma casa de seis
quartos para os quatro filhos. O
vendedor não informou que o
imóvel estava na lista de demolição da prefeitura. Ela ficou
com o imóvel, mas não conseguiu fazer os consertos.
O programa não está livre de
polêmicas. Em 2006, um site
divulgou e-mail de um funcionário do canal do programa
elencando as desgraças desejáveis no perfil dos personagens
do programa. A lista incluía
desde vítimas de crimes de ódio
a casas assaltadas e crianças
com insensibilidade à dor.
Outros programas em exibição também já lançaram mão
da fórmula da superação pessoal, como o da apresentadora
Oprah Winfrey. Ela já comandou gincanas na TV em que o
vencedor era aquele que ajudasse mais pessoas carentes.
Mas na TV americana cabe
ajuda para todos os bolsos e
problemas. Ainda está no ar o
"Find My Family" (encontre
minha família), que promove o
encontro de parentes. Há ainda
o "The Biggest Loser", um programa de emagrecimento que,
além de atrair pessoas fora do
peso, atrai famílias pobres que
não têm como arcar com o tratamento contra obesidade.
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