São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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BIA ABRAMO

A repetição de "Cinquentinha"


Além da boa ideia, precisa-se de roteiro imaginativo, e aí a coisa não se segura na série

DEVE SE admitir uma coisa sobre a minissérie de Aguinaldo Silva: ainda que não seja original, a ideia é boa. Três ex-mulheres de um milionário (falido) devem esquecer as diferenças e trabalhar juntas para salvar as empresas do ex. Quem se der melhor leva 50% da herança. Daí o título "Cinquentinha", série que estreou terça-feira na Globo (ter. a sex., após o programa que segue a novela "Viver a Vida").
A possibilidade de receber uma bolada de dinheiro "dos céus", por assim dizer, que pode tirar um sujeito do fundo do poço ou deixar quem já é rico ainda mais rico, é uma fantasia poderosa. Dinheiro de graça -que não custa o suor do rosto, a jornada exaustiva de trabalho, o chefe irascível, ou seja, nenhuma das chateações do mundo do trabalho- desperta a cobiça (e a preguiça) que há em cada um de nós. E, se você acrescenta rivalidade, ciúme, intriga e competição, tudo junto pode dar um bom argumento.
O diabo é que, além da boa ideia, precisa-se de roteiro imaginativo -e aí a coisa não se segura em "Cinquentinha". As três personagens femininas principais, Lara (Suzana Vieira), Mariana (Marília Gabriela) e Rejane (Betty Lago), passaram os dois capítulos iniciais dando "pitis" e "barracos" e enfiando o dedo na cara dos outros, como a dizer "não se mete comigo que sou poderosa".
Não há, na cartilha de Aguinaldo Silva, outra forma de uma mulher segura de si mesma se comportar a não ser por meio de acessos de temperamento. É como se, para se contrapor ao que o autor entende por "politicamente correto", coisa da qual Aguinaldo Silva já declarou por todos os lados ter verdadeiro horror, se devesse instalar um estado de desaforo e malcriação permanentes. Ok, a comédia é mesmo excessiva, e a televisão, reiterativa, mas depois de três cenas de gritaria, o negócio começa a ficar monótono.
E, é claro, a situação armada nos capítulos iniciais, ou seja, da convivência forçada entre as três ex, que naturalmente se odeiam e cultivam rancores recíprocos, será um prato cheio de oportunidades para mais gritaria, mais confusão, mais exposição despudorada de arrogância e antipatia.
Dizem que Aguinaldo Silva inspirou-se em traços da personalidade das atrizes escaladas para viver o trio principal para compor as personagens. O divertido é que, por ora, quem se saiu melhor em termos de atuação foi Betty Lago no papel de Rejane, que seria vivida por Renata Sorrah.

biabramo.tv@uol.com.br


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