São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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Violência é rotina e vira tema de peças

DA SUCURSAL DO RIO

Não bastasse a batida da polícia interrompendo o exercício das crianças de Caxias, outros episódios de violência fazem parte do cotidiano dos atores das companhias teatrais das favelas.
O grupo de Vila Vintém, por exemplo, esconde a origem quando se apresenta em áreas dominadas por facções criminosas rivais -a vila é área do TC (Terceiro Comando).
Usa apenas a sigla, TVV. "Dizemos que é Teatro Viva Vida. A gente não quer confusão", diz o diretor Otávio Moreira. Uma das alunas é moradora da Tijuca, área da facção rival, o CV (Comando Vermelho). Para evitar problemas, ninguém na favela sabe de onde ela vem.
Enquanto os atores da companhia posavam para fotos, um olheiro do tráfico vigiava a rua, passando de moto pelo local.
A rotina aparece também nos espetáculos, que muitas vezes falam de violência, desemprego e delinquência juvenil. Uma das dificuldades para manter os jovens no grupo, conta o diretor, é justamente o apelo da rua. "A rua é sedutora", diz Moreira.
As crianças têm ordem dos pais para, em caso de tiroteio, voltar para casa correndo. Ana Beatriz da Silva Noé, 9, diz que, em muitas noites, acorda ouvindo tiros na rua. Numa dessas noites, conta, desceu de seu beliche e ocupou a cama de baixo. De manhã, acordou e viu uma bala na cama de cima. (FE)


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