São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

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Virgínia Rosa celebra Monsueto em CD

Cantora interpreta músicas do carioca, como "Mora na Filosofia" e "A Fonte Secou", no álbum "Baita Negão"

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de contribuir com o verso "vale a pena não dormir para esperar" no samba-canção "Faz Escuro Mas Eu Canto", que compôs em três dias de 1964 com o poeta Thiago de Mello, o sambista Monsueto sentiu falta de algo. Quis incluir um "cochila" na pausa após o "esperar". "Cansa demais a noite inteira sem dormir", tentou justificar, "uma cochilada alivia e dá força à esperança".
A soneca ficou de fora da versão final, mas era sempre lembrada por refugiados que, no Chile, se fiavam naquela canção de esperança em tempos de ditadura no Brasil. Quase 45 anos depois, a história é contada pelo co-autor no encarte de "Baita Negão", de Virgínia Rosa.
O quarto álbum da cantora paulista contempla em 11 faixas sambas feitos (alguns em parcerias) pelo compositor, cantor, ator e pintor carioca Monsueto Menezes (1924-1973). No disco, gravado com patrocínio da Petrobras, Virgínia busca ressaltar a verve criativa do Comandante -como era conhecido, graças a esquetes que fazia na TV Rio-, que lançou gírias como "morou?" e "diz aí".
"Ele era uma figura interessantíssima", diz a cantora, "e, embora suas músicas sejam conhecidas nas vozes de gente como Caetano ["Mora na Filosofia", de Monsueto e Arnaldo Passos] e Alaíde Costa e Milton Nascimento ["Me Deixa em Paz", com Ayrton Amorim], pouca gente se lembra dele".
Resultado, talvez, da escassa discografia do sambista, que teve apenas um álbum lançado em vida, "Mora na Filosofia dos Sambas de Monsueto", de 1962, e uma coletânea póstuma, "Raízes do Samba", de 2000.
Em "Baita Negão", Virgínia interpreta, além das canções já citadas, sambas como "Lamento da Lavadeira" (que entrou em medley com "Ensaboa", de Cartola, no disco "Mais", de Marisa Monte) e "Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo" (também gravada por Caetano, em "Araçá Azul") -nesta última, Martinho da Vila divide os vocais com a cantora.
Para dar a dimensão da "multiplicidade" de Monsueto, convidou 11 produtores, um para cada faixa, incluindo Celso Fonseca (em "Mora na Filosofia"), Jair de Oliveira ("A Fonte Secou") e Proveta (no pot-pourri final, com participação de Oswaldinho da Cuíca).
"Queria que o CD refletisse essa pessoa versátil que era o Monsueto", diz, sobre os vários produtores. "Mas, claro, pus ali muito da minha personalidade, que, modéstia à parte, é forte como a dele."


BAITA NEGÃO
Artista: Virgínia Rosa
Gravadora: Selo Sesc
Quanto: R$ 10 (em unidades do Sesc SP ou em www.sescsp.org.br/sesc)
Lançamento: 29 e 30/1, às 21h, no Sesc Pompeia (r. Clelia, 93, tel. 0/ xx/ 11/3871-7700; R$ 4 a R$ 16; não indicado a menores de 12 anos)


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