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Música
Crítica/"Três Meninas do Brasil - Ao Vivo"
Diferenças garantem qualidade de encontro de três cantoras
CD e DVD registram show com Jussara Silveira, Teresa Cristina e Rita Ribeiro
MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É como conciliar personalidades tão dissonantes como as de Nara
Leão, Gal Costa e Maria Bethânia num mesmo pacote, sem
que as peculiaridades estéticas
de nenhuma delas acabem por
se anular nesse confronto.
Produto de espetáculo homônimo, a dobradinha de CD e
DVD "Três Meninas do Brasil"
registra o encontro das também pouco convergentes Teresa Cristina, Jussara Silveira e
Rita Ribeiro iniciado no final de
2007, que rendeu raras apresentações ao vivo e um saldo artístico revelador.
Cantoras de escolas e estilos
que pouco se visitariam no glorioso passado da MPB, as três
meninas parecem interessadas
na "graça da mistura", como
prega a canção de Moraes Moreira e Fausto Nilo que batiza
esse trabalho conjunto. E nem
a falta de ousadia habitual dos
arranjos de Jaime Alem -que
acompanha Bethânia há quase
duas décadas- compromete a
vitalidade da experiência.
A ideia de juntar essas pequenas grandes diferenças saiu da
cabeça de Rita Ribeiro, como
também vieram dela as melhores escolhas do repertório. Como a inclusão da épica "Mulher
Nova, Bonita e Carinhosa Faz o
Homem Gemer sem Sentir
Dor", de Zé Ramalho e Octacílio Batista, lançada por Amelinha em 1982. Ou do samba-jóia
"Poxa", de Gilson de Souza (só
no DVD), recentemente regravado por Elymar Santos.
O flerte com esse cancioneiro
popular mais deslavado, natural no trabalho de Rita, serviu
para arrancar suas duas colegas
do confortável (e pouco fértil)
trono de "cantoras cult" onde
elas se recostavam. Jussara e
Teresa parecem revigoradas
após percorrer versos como
"Poxa, não entre nessa de mudar de assunto/ Não vê como é
gostoso a gente ficar junto/
Mulher, o teu lugar é no meu
coração", de "Poxa".
São soluções simples que
funcionam de forma surpreendente. Quase uma iluminação
para quem está acostumado a
acreditar na sofisticação de
Tom e Vinicius como o único
caminho possível.
Diferenças
Juntas em 15 das 21 músicas,
em duos ou em trio, elas não
saem de cena. Assistem atentas, do canto do palco, aos solos
das companheiras. São nesses
momentos que cada uma mostra sua praia real.
Jussara se divide entre a altivez de Caetano Veloso ("A Dama do Cassino") e a doçura de
Chico Buarque ("Ludo Real"),
os dois compositores prediletos de sua matriz Gal Costa. Teresa apresenta um samba seu
("Cantar") e também recorre a
Caetano ("Nu com Minha Música") para deixar escorrer sua
pseudo-fragilidade, como uma
típica filha de Nara Leão. Rita
Ribeiro vai de Sérgio Sampaio
("Maiúsculo") a Marcio Greyck
("Impossível Acreditar que
Perdi Você"), com a desenvoltura que só Maria Bethânia,
que já emendou Maysa e "É o
Amor", seria capaz de ter.
Mas estar sozinha não é a
proposta, e as três logo se reúnem em uníssono, tomando
emprestados versos de Zeca
Baleiro em "Minha Tribo Sou
Eu": "Eu não sou negão, eu não
sou judeu/ Não sou do samba
nem sou do rock/ Minha tribo
sou eu." Parecem ter descoberto que, tomando contato tão íntimo com o que há de diferente
nas outras, nunca foram tão
elas mesmas quanto agora.
TRÊS MENINAS DO BRASIL - AO VIVO
Artista: Jussara Silveira, Teresa Cristina e Rita Ribeiro
Lançamento: Quitanda
Quanto: R$ 28,90 (CD) e R$ 42,90
(DVD; classificação não informada)
Avaliação: bom
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