São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

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cinema

CRÍTICA AVENTURA

Adaptação confunde magia com bagunça

Inspirado no livro clássico de Jonathan Swift, "As Viagens de Gulliver" exagera na atualização da narrativa

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

A boa notícia: estreia hoje nos cinemas brasileiros mais uma adaptação de "Viagens de Gulliver", o clássico de Jonathan Swift (1667-1745) que há quase 300 anos encanta adultos e crianças.
A má notícia: o filme não tem um pingo da magia e da inventividade do livro.
Produzido por uma equipe de especialistas em animação que tem no currículo "Shrek" e "O Espanta Tubarões", "Viagens de Gulliver" tenta adequar a obra de Swift a um público contemporâneo, usando referências à cultura pop. Não funciona.
"Gulliver" é um livro surrealista e delirante. Mas existe um método na loucura de Swift, e o livro, por mais fantástico que seja, consegue transportar o leitor para o mundo de fantasia criado pelo autor.

LIBERDADES
Já o filme confunde magia com bagunça. O roteiro toma tantas liberdades com a história original que a trama passa a não fazer mais sentido. E a pior coisa que pode fazer a uma história é não se acreditar mais nela.
Jack Black ("King Kong", "Escola do Rock") interpreta Lemuel Gulliver, funcionário de um jornal nova-iorquino. Gulliver está há 10 anos entregando correspondência na redação e parece não ter maiores ambições.
Ele tem uma queda pela editora de turismo do jornal, Darcy (Amanda Peet), mas não tem coragem sequer de falar com ela. É o clássico nerd fracassado.
Por meio de uma série de fatores improváveis, Amanda escala Gulliver para fazer uma reportagem de turismo nas Ilhas Bermudas. Por fatores mais improváveis ainda, ele acaba sozinho num barco, perdido no Triângulo das Bermudas.
O barco afunda, e Gulliver acorda numa praia, diante de seres minúsculos, os cidadãos de Liliput. Os liliputianos, aliás, falam inglês com sotaque britânico, para realçar seu aspecto "exótico".
O estranhamento entre Gulliver e os liliputianos desaparece depois que ele livra o povo da invasão de rivais e apaga um grande incêndio fazendo xixi nas chamas (o aspecto escatológico da história, pelo menos, o filme manteve). Gulliver vira um herói local.
Ele também se vê envolvido num triângulo amoroso envolvendo a princesa local (Emily Blunt), um arrogante militar (Chris O'Dowd) e um plebeu (Jason Segel), que ama a princesa e a quem Gulliver promete ajudar.

APELO AO REAL
O grande problema do filme é a insistência em tentar sempre puxar o espectador de volta à "realidade", seja por citações à cultura pop ou por menções a aspectos da vida moderna. Há referências a filmes como "Titanic" e "Guerra nas Estrelas"; Gulliver chega a montar uma banda "cover" do Kiss com os pequenos cidadãos de Liliput. Será mesmo necessário?
Será que o espectador atual não é capaz de se envolver com uma história fantástica e mágica como "Gulliver"? A fantasia só não basta?

AS VIAGENS DE GULLIVER

DIREÇÃO Rob Letterman
PRODUÇÃO EUA, 2010
COM Jack Black, Emily Blunt e Jason Segel
ONDE nos cines Boulevard Tatuapé Cinemark, Bristol, Jardim Sul UCI e circuito
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ruim


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