São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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TELEVISÃO
Negociações para auto-regulamentar o setor, que começaram em novembro de 1998, fracassaram
Governo estuda decretar código de ética

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local


Diante do fracasso das negociações que conduziu com as emissoras de TV, o governo federal agora estuda a imposição de um "código de ética" por meio de decreto ou portaria -por um "ato do Executivo", nas palavras do secretário nacional dos Direitos Humanos, José Gregori.
Ele afirmou que um grupo formado por advogados da União e procuradores está à procura de uma fórmula jurídica que obrigue as TVs a seguir "uma espécie de balizamento", para que não ultrapassem determinados limites.
Essa regulamentação teria também de respeitar o princípio constitucional que proíbe a censura. O estudo deve estar concluído em no máximo 40 dias, segundo o secretário.
O problema dos excessos da televisão voltou a ser debatido após D.J.G., 9, dar facadas superficiais na sua vizinha M.D.N., 7, no Distrito Federal, na segunda-feira passada. O menino disse à polícia ter se inspirado no filme "Brinquedo Assassino 2", exibido pelo SBT na semana anterior.
A emissora respeitou o horário recomendado pelo Ministério da Justiça -o filme começou a ser exibido às 22h17 e, antes da transmissão, foi informado que a programação era inadequada para menores de 14 anos. Durante todo o filme, o SBT exibiu o selo amarelo no canto da tela, indicando que o filme não era adequado a todas as audiências.
"Brinquedo Assassino 2" tem como protagonista o boneco Chucky, que "incorpora" um criminoso e ataca adultos e crianças.
O governo e as emissoras debatem a auto-regulamentação da TV desde novembro de 1998, após episódios como a apresentação do "sushi erótico" pelo "Domingão do Faustão", a exibição de pessoas portadoras de deformações e brigas armadas no "Programa do Ratinho".
As conversas, no entanto, não tiveram efeito prático. Nenhum dos textos enviados a Gregori pelas emissoras prevê a possibilidade de punição -apenas estabelecem princípios genéricos.
Depois de mais de um ano e três meses de negociações, o próprio Gregori reconhece que não houve avanços, mas acha que os debates serviram para conscientizar as emissoras de responsabilidades.
"Para o governo, não houve melhora palpável, mas também não houve piora. A escalada para o pior, que havia quando começamos a conversar, foi travada", acredita o secretário.
A opção pela regulamentação via decreto ou portaria é a preferida por Gregori por ser mais rápida. "Nessa matéria, em geral, os projetos que vão para o Congresso Nacional não transitam com celeridade", afirmou. "Estou fazendo o estudo, para saber se a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente permitem que o governo estabeleça isso sem projeto de lei." Gregori ainda não descarta a possibilidade de que um acordo possibilite a auto-regulamentação do setor.
Segundo o secretário, o governo ainda não havia preparado o estudo para evitar a crítica de que pretende promover a volta do instrumento da censura.
"Você sempre confia no outro lado. Se não esgotamos a possibilidade de auto-regulamentação, você sempre será criticado por estar querendo fazer ressurgir o triste período da censura. Esse espaço de negociação para um regime democrático era inevitável."
Ainda segundo ele, dois fatores contribuíram para que o governo não apresentasse uma proposta de regulamentação durante as conversas, mesmo como uma alternativa: a receptividade das TVs para negociar e a redução do número de reclamações.


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