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TELEVISÃO
Negociações para auto-regulamentar o setor, que começaram em novembro de 1998, fracassaram
Governo estuda decretar código de ética
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
Diante do fracasso das negociações que conduziu com as emissoras de TV, o governo federal
agora estuda a imposição de um
"código de ética" por meio de decreto ou portaria -por um "ato
do Executivo", nas palavras do secretário nacional dos Direitos
Humanos, José Gregori.
Ele afirmou que um grupo formado por advogados da União e
procuradores está à procura de
uma fórmula jurídica que obrigue
as TVs a seguir "uma espécie de
balizamento", para que não ultrapassem determinados limites.
Essa regulamentação teria também de respeitar o princípio
constitucional que proíbe a censura. O estudo deve estar concluído em no máximo 40 dias, segundo o secretário.
O problema dos excessos da televisão voltou a ser debatido após
D.J.G., 9, dar facadas superficiais
na sua vizinha M.D.N., 7, no Distrito Federal, na segunda-feira
passada. O menino disse à polícia
ter se inspirado no filme "Brinquedo Assassino 2", exibido pelo
SBT na semana anterior.
A emissora respeitou o horário
recomendado pelo Ministério da
Justiça -o filme começou a ser
exibido às 22h17 e, antes da transmissão, foi informado que a programação era inadequada para
menores de 14 anos. Durante todo
o filme, o SBT exibiu o selo amarelo no canto da tela, indicando
que o filme não era adequado a
todas as audiências.
"Brinquedo Assassino 2" tem
como protagonista o boneco
Chucky, que "incorpora" um criminoso e ataca adultos e crianças.
O governo e as emissoras debatem a auto-regulamentação da
TV desde novembro de 1998,
após episódios como a apresentação do "sushi erótico" pelo "Domingão do Faustão", a exibição
de pessoas portadoras de deformações e brigas armadas no
"Programa do Ratinho".
As conversas, no entanto, não
tiveram efeito prático. Nenhum
dos textos enviados a Gregori pelas emissoras prevê a possibilidade de punição -apenas estabelecem princípios genéricos.
Depois de mais de um ano e três
meses de negociações, o próprio
Gregori reconhece que não houve
avanços, mas acha que os debates
serviram para conscientizar as
emissoras de responsabilidades.
"Para o governo, não houve melhora palpável, mas também não
houve piora. A escalada para o
pior, que havia quando começamos a conversar, foi travada",
acredita o secretário.
A opção pela regulamentação
via decreto ou portaria é a preferida por Gregori por ser mais rápida. "Nessa matéria, em geral, os
projetos que vão para o Congresso Nacional não transitam com
celeridade", afirmou. "Estou fazendo o estudo, para saber se a
Constituição e o Estatuto da
Criança e do Adolescente permitem que o governo estabeleça isso
sem projeto de lei." Gregori ainda
não descarta a possibilidade de
que um acordo possibilite a auto-regulamentação do setor.
Segundo o secretário, o governo ainda não havia preparado o
estudo para evitar a crítica de que
pretende promover a volta do
instrumento da censura.
"Você sempre confia no outro
lado. Se não esgotamos a possibilidade de auto-regulamentação,
você sempre será criticado por estar querendo fazer ressurgir o
triste período da censura. Esse espaço de negociação para um regime democrático era inevitável."
Ainda segundo ele, dois fatores
contribuíram para que o governo
não apresentasse uma proposta
de regulamentação durante as
conversas, mesmo como uma alternativa: a receptividade das TVs
para negociar e a redução do número de reclamações.
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