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"AS NOVAS ROUPAS DO IMPERADOR"
Napoleão vive e reaparece em exercício singelo de farsa histórica
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
A fonte de "As Novas Roupas do Imperador" é um pequeno romance escrito por Simon Leys, "A Morte de Napoleão". Não chega a ser uma obra
genial, mas a premissa é deliciosa:
Napoleão, na verdade, não teria
morrido em seu exílio na Ilha de
Santa Helena, em maio de 1821, e
sim um impostor que tomara o
seu lugar.
Tudo fazia parte de um plano
do próprio Napoleão, grande estrategista que era. Ao descobrir
que tinha um sósia, ele teria embarcado incógnito de volta a Paris, com planos de retomar seu
trono. Não podia imaginar que o
homem que ficara em seu lugar,
empanturrado de comida e bebida, cairia morto.
A morte do sósia de Napoleão
arruína os planos do verdadeiro.
Como a estratégia era conhecida
por pouquíssimos, depois que a
morte do imperador é anunciada
a torto e a direito, causando comoção em Paris, não há quem
acredite na versão daquele louco
(daí, também, fica a sugestão de
como começou aquela história de
que todos os loucos gostam de dizer que são Napoleão).
Dirigido com simplicidade burocrática pelo estreante em cinema Alan Taylor (das séries de TV
"West Wing" e "Sex and the
City"), "As Novas Roupas do Imperador" tem nas suas limitações
um trunfo. Não faz sentido querer
reinventar a roda com grandes
pretensões de linguagem quando
se tem um material como esse.
Aqui, basta seguir o padrão do
bom "playwriting" americano e
confiar nos atores para garantir
um bom filme. Taylor poderia ter
sido um pouco mais inventivo
aqui e ali, mas no fim das contas
não estraga uma boa história.
Os atores do filme garantem a
qualidade da obra. Particularmente o grande Ian Holm, que se
divide nos papéis de Napoleão e
seu sósia, Eugene Leormand.
Com a dose certa de distanciamento e ironia, Holm faz um Napoleão vaidoso e brilhante que
descobre as delícias do anonimato quando se vê amarrado à vida
de outro, em Paris.
Ele conhece uma mulher (a dinamarquesa Iben Hjejle, de "Mifune" e "Alta Fidelidade"), redescobre o romance e desafoga seus
impulsos estrategistas revolucionando o comércio da melancia,
que era a especialidade dos moradores de seu bairro.
"As Novas Roupas do Imperador" é um exercício singelo de um
gênero muito pouco explorado
pelo cinema recente (a farsa histórica). Se não é brilhante, tampouco chega a ser medíocre. Tem o tamanho certo de sua própria
(des)pretensão.
As Novas Roupas do Imperador
The Emperor's New Clothes
Direção: Alan Taylor
Produção: Reino Unido/Itália/Alemanha, 2001
Com: Ian Holm, Ben Hjejle, Tim
McInnerny e Tom Watson
Quando: a partir de hoje nos cines
Calcenter e Frei Caneca Unibanco
Arteplex
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