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São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

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"AS NOVAS ROUPAS DO IMPERADOR"

Napoleão vive e reaparece em exercício singelo de farsa histórica

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A fonte de "As Novas Roupas do Imperador" é um pequeno romance escrito por Simon Leys, "A Morte de Napoleão". Não chega a ser uma obra genial, mas a premissa é deliciosa: Napoleão, na verdade, não teria morrido em seu exílio na Ilha de Santa Helena, em maio de 1821, e sim um impostor que tomara o seu lugar.
Tudo fazia parte de um plano do próprio Napoleão, grande estrategista que era. Ao descobrir que tinha um sósia, ele teria embarcado incógnito de volta a Paris, com planos de retomar seu trono. Não podia imaginar que o homem que ficara em seu lugar, empanturrado de comida e bebida, cairia morto.
A morte do sósia de Napoleão arruína os planos do verdadeiro. Como a estratégia era conhecida por pouquíssimos, depois que a morte do imperador é anunciada a torto e a direito, causando comoção em Paris, não há quem acredite na versão daquele louco (daí, também, fica a sugestão de como começou aquela história de que todos os loucos gostam de dizer que são Napoleão).
Dirigido com simplicidade burocrática pelo estreante em cinema Alan Taylor (das séries de TV "West Wing" e "Sex and the City"), "As Novas Roupas do Imperador" tem nas suas limitações um trunfo. Não faz sentido querer reinventar a roda com grandes pretensões de linguagem quando se tem um material como esse.
Aqui, basta seguir o padrão do bom "playwriting" americano e confiar nos atores para garantir um bom filme. Taylor poderia ter sido um pouco mais inventivo aqui e ali, mas no fim das contas não estraga uma boa história.
Os atores do filme garantem a qualidade da obra. Particularmente o grande Ian Holm, que se divide nos papéis de Napoleão e seu sósia, Eugene Leormand. Com a dose certa de distanciamento e ironia, Holm faz um Napoleão vaidoso e brilhante que descobre as delícias do anonimato quando se vê amarrado à vida de outro, em Paris.
Ele conhece uma mulher (a dinamarquesa Iben Hjejle, de "Mifune" e "Alta Fidelidade"), redescobre o romance e desafoga seus impulsos estrategistas revolucionando o comércio da melancia, que era a especialidade dos moradores de seu bairro.
"As Novas Roupas do Imperador" é um exercício singelo de um gênero muito pouco explorado pelo cinema recente (a farsa histórica). Se não é brilhante, tampouco chega a ser medíocre. Tem o tamanho certo de sua própria (des)pretensão.


As Novas Roupas do Imperador
The Emperor's New Clothes
   
Direção: Alan Taylor
Produção: Reino Unido/Itália/Alemanha, 2001
Com: Ian Holm, Ben Hjejle, Tim McInnerny e Tom Watson
Quando: a partir de hoje nos cines Calcenter e Frei Caneca Unibanco Arteplex



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