INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"O Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício" é, em primeiro lugar, o que não poderia deixar de ser: uma biografia de Antonio Francisco Lisboa, o grande mestre do barroco mineiro.
E é algumas coisas que poderia deixar de ser: uma visão laudatória de um artista que não precisa de elogios, um filme em que os diálogos corroboram a imagem ou vice-versa, uma dramaturgia digna dos teleteatros... Isso não torna o filme de Geraldo Santos Pereira menos simpático.
Ele assinala o retorno de um realizador veterano, desta vez realizando um vôo solo (normalmente, Geraldo e seu irmão Renato co-dirigiam os filmes; desta vez, Renato comparece como produtor e co-roteirista).
Alguns dos filmes dos Santos Pereira pecavam pela pretensão. Aqui, Geraldo aborda a vida de um artista de primeiríssima linha a partir da pesquisa de um professor junto à nora do Aleijadinho.
Ou seja, uma certa despretensão dá o tom. É como se fosse uma história contada às crianças (e talvez essa seja a função principal do filme), em que a ingenuidade não atrapalha. Ela é o fundamento.
Entre os aspectos mais interessantes está a ênfase na busca de Aleijadinho por um "estilo brasileiro". Entre os frustrados, a incapacidade de articular a vida do artista aos acontecimentos políticos. Por querer dar conta de uma vida inteira e, ao mesmo tempo, de sua época, "Aleijadinho" sofre de excesso de assunto e de certa incapacidade de juntar os fios.
É como se faltasse ao diretor a malícia para, isolando alguns aspectos, aprofundá-los. Isso, porém, dá conta da honestidade do filme, do sincero desejo de mostrar tudo sobre o biografado. Desejo frustrado, mas legítimo.

O Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício  
Produção: Brasil, 2001
Direção: Geraldo Santos Pereira
Com: Carlos Vereza, Edwin Luise
Onde: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Extra Anchieta, Interlar Aricanduva, SP Market