São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

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Beyoncé é uma "máquina" profissional

Filha do feminismo, dos movimentos anti-racismo e de um pai-empresário, cantora faz carreira milionária e estrela "Dreamgirls"

Para ganhar o papel, cantora, que busca reconhecimento como atriz, passou final de semana vendo vídeos de Diana Ross


Divulgação
Beyoncé interpreta a diva Deena Jones, no filme "Dreamgirls"


DAVID THOMAS
DO "INDEPENDENT"

Em "Dreamgirls - Em Busca de um Sonho", um musical sobre um trio de cantoras que lembra o grupo The Supremes, Beyoncé Knowles estrela como uma diva pop dos anos 60 não tão diferente de Diana Ross.
O filme (que estréia sexta no Brasil) conquistou três Globos de Ouro (Beyoncé chegou a ser indicada a melhor atriz em comédia ou musical, mas perdeu para Meryl Streep em "O Diabo Veste Prada") e faturou US$ 68 milhões nos EUA, além de conquistar o maior número de indicações para o Oscar 2007, um total de oito. Nesta semana, a cantora levou o Grammy de álbum de r&b contemporâneo, por "B'Day".
Beyoncé Giselle Knowles, 25, funciona como uma máquina, concentrada na vida profissional -e isso inclui não comentar seu relacionamento de cinco anos com o bem-sucedido rapper Jay-Z. Ela já vendeu 40 milhões de álbuns como líder do grupo Destiny's Child, e mais 15 milhões em carreira solo.
Beyoncé pertence a um grupo de jovens mulheres negras do qual fazem parte a apresentadora de TV Tyra Banks e a cantora Alicia Keys, que herdaram as conquistas obtidas por não apenas um, mas por dois movimentos de libertação do século passado: o feminismo e a luta pela igualdade racial.
Ela não precisou se esforçar para sair do gueto. Matthew, seu pai, era executivo de vendas na Xerox antes de deixar o posto para gerenciar a carreira da filha; Tina, sua mãe, dirigia um bem sucedido salão de beleza, e agora responde pela etiqueta de moda da cantora.
Ela é parte do processo de elitização econômica da música pop; é uma equivalente, nos EUA, de músicos como os integrantes dos britânicos Coldplay e Radiohead, ex-alunos de boas escolas particulares.

Pai empresário
Beyoncé foi uma criança tímida, quase nervosa. Seus pais a matricularam em um curso de balé, na esperança de reforçar sua confiança; aos sete anos, Knowles estrelou seu primeiro espetáculo, como cantora, interpretando "Imagine", de John Lennon, em um concurso promovido por uma igreja. Nos anos seguintes, ela venceria mais de 30 concursos.
Na adolescência, já havia formado um quarteto, o Girls Tyme. Seu pai deixou o emprego para administrar a carreira do conjunto. Quando completou 15 anos, e depois de o nome do grupo ter sido mudado para Destiny's Child, Beyoncé já tinha um contrato com a Columbia Records. Dois anos mais tarde, as meninas colocaram seu primeiro single entre os dez mais vendidos nos EUA. O álbum de estréia da banda lhes valeu um disco de platina.
"The Writing's on the Wall", o segundo álbum do Destiny's Child, lançado em 2000, vendeu mais de 13 milhões de cópias e resultou em quatro singles, entre os quais "Say My Name", que conquistou dois prêmios Grammy. No final de 2000, o Destiny's Child produziu seu maior sucesso até o momento, "Independent Woman, Part 1".
Um ano mais tarde, Beyoncé se tornou a primeira negra norte-americana (e a segunda mulher) a conquistar o prêmio de compositora do ano, concedido pela American Society of Composers, Authors, and Publishers.
Àquela altura, ela já havia introduzido uma nova palavra nos dicionários de cultura pop: "Bootylicious", com o significado de curvilínea, sexy e extremamente atraente. "Booty" se refere à combinação afrocaribenha de coxas fortes, quadris curvilíneos e traseiro perfeitamente arredondado que causa inveja profunda às mulheres brancas. No palco, Beyoncé se comporta com a exuberância física de uma Tina Turner em sua juventude. Diante da presença de Beyoncé no palco, a conclusão de que estamos contemplando uma força da natureza é inescapável.
A apoteose do glamour veio na cerimônia do Oscar em 2005, quando ela cantou três das canções indicadas para o prêmio. Foi um momento crucial para a cantora, que deseja desesperadamente fazer sucesso em Hollywood. O principal crédito que ela tinha nas telas até ali era seu papel como a companheira black power de Mike Myers em "Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro", mas ela precisava provar que seu alcance era maior, e que podia interpretar papéis mais sérios e clássicos.

Ambição
Quando surgiu o anúncio de que Bill Condon faria uma versão de "Dreamgirls", musical que fez temporada na Broadway em 1981, Beyoncé decidiu que tinha de conquistar o papel principal. Quem estava mais capacitada a fazer Deena Jones, a ambiciosa vocalista líder que sonha em se tornar atriz?
Beyoncé é representada pela poderosa agência ICM, e os produtores de "Dreamgirls" logo foram informados de que ela estava muito, muito interessada no filme. Os agentes fecharam um acordo com os produtores, para que eles não testassem outras cantoras e atrizes para o papel antes que Beyoncé pudesse demonstrar sua capacidade, e receber a aprovação ou rejeição do estúdio. Na audição, ela teve de interpretar duas cenas e cantar uma canção, acompanhada ao piano.
Nem seria preciso dizer que Knowles não deixou nada ao acaso. Encontrou um vestido preto de decote profundo, ao estilo dos anos 60, que ela mandou alterar até que ficasse perfeito, passou um final de semana assistindo a vídeos de Diana Ross and the Supremes e Martha and the Vandellas e desenvolveu uma coreografia para acompanhar a música. Também encontrou uma peruca perfeita, bem ao estilo usado pelas Supremes.
Beyoncé naturalmente conseguiu o papel. E naturalmente contratou um professor de atuação para treinar cada fala do roteiro e cada verso das canções a fim de garantir que o modo de falar da Beyoncé moderna não surgisse na voz de Deena, a cantora dos anos 60. E naturalmente, ao concluir as filmagens de "Dreamgirls" e depois de gravar as 16 canções da trilha sonora, ela correu ao Texas para gravar seu disco solo "B'Day". Todas essas atividades, às quais devemos acrescentar seus negócios no ramo da moda, foram acompanhadas pela criação da Survivor Foundation, a organização de caridade que ela estabeleceu para ajudar as pessoas desabrigadas devido ao furacão Katrina.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

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