São Paulo, quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

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Moretti estrela drama sobre a perda e o luto

Diretor volta a atuar em "Caos Calmo", de Antonello Grimaldi, exibido em Berlim

Cena de sexo do protagonista motivou protesto de bispo italiano; para autor do longa, passagem é realista porque é "de sexo, não de amor"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

O candidato da Itália ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, exibido ontem, traz Nanni Moretti, o mais renomado diretor italiano da atualidade, trabalhando na frente das câmeras.
Moretti é o protagonista de "Caos Calmo", dirigido por Antonello Grimaldi, e também assina o longa-metragem como um de seus roteiristas, adaptado do livro homônimo de Sandro Veronesi, sobre um homem em luto.
Com a morte de sua mulher, Pietro Paladini (Moretti) perde o interesse em fazer qualquer coisa. Um dia, depois de levar a filha Claudia (Blu Yoshimi) à escola, ele se deixa ficar num banco de praça em frente ao colégio, até que as aulas terminem, e a menina o reencontre no portão.
Os dias de tormento emocional e imobilidade física -o caos calmo de que fala o título- passam a ser uma rotina na vida de Pietro, ou o seu método particular de elaborar o luto e de, aos poucos, retomar o convívio social.
"O luto é um pretexto para o protagonista poder parar, o que me parece ser o verdadeiro tema do filme", disse Antonello, ontem, em Berlim.

Sexo e protestos
Na entrevista coletiva sobre o filme, Moretti se irritou quando um jornalista italiano mencionou os protestos de um bispo italiano à extensa cena de sexo de seu personagem em "Caos Calmo".
"Esse tipo de reação da igreja não é novidade na Itália. A novidade é que, agora, isso ganhe tanta proporção na imprensa", disse Moretti.
Antonello afirmou que todas as escolhas que fez sobre a maneira de filmar a cena levaram em conta o fato de que se trata de um momento fundamental no percurso do personagem -daí sua extensão- e é "uma cena de sexo, não de amor" -daí seu realismo.

Comédia de Mike Leigh
Embora a maior parte dos 21 longas em competição nesta 58ª edição do Festival de Berlim tenha tramas dramáticas, o filme que mais movimentou a disputa foi uma comédia, exibida anteontem.
"Happy-Go-Lucky" (desencanado), do britânico Mike Leigh, acompanha a invariavelmente otimista e sorridente professora primária Poppy (Sally Hawkins) dividindo o trabalho e a alegria com as amigas e, ao mesmo tempo, lidando com os problemas, o pessimismo e o mau-humor alheios.
Esses últimos são encarnados sobretudo por Scott (Eddie Marsan), o professor de auto-escola com quem Poppy tenta aprender a dirigir e que, a cada aula, despeja sobre ela um turbilhão de ressentimentos -contra o sistema educacional do país, os cidadãos de esquerda, em particular, e os outros motoristas em geral.
A Coréia do Sul também já apresentou seu candidato no festival. "Bam gua Nat" (noite e dia), de Hong Sang-soo, trata, em duas horas e 25 minutos, dos embaraços amorosos de um homem com sua mulher, a ex-namorada e a amante.
O francês de origem armênia Robert Guédiguian (de "A Cidade Está Tranqüila") exibiu ontem seu concorrente, "Lady Jane", um filme noir sobre o tema da vingança.
Hoje, haverá a exibição dos últimos filmes da competição. A premiação acontece neste sábado.


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