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Moretti estrela drama sobre a perda e o luto
Diretor volta a atuar em "Caos Calmo", de Antonello Grimaldi, exibido em Berlim
Cena de sexo do protagonista motivou protesto de bispo italiano; para autor do longa, passagem é realista porque é "de sexo, não de amor"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
O candidato da Itália ao Urso
de Ouro no Festival de Berlim,
exibido ontem, traz Nanni Moretti, o mais renomado diretor
italiano da atualidade, trabalhando na frente das câmeras.
Moretti é o protagonista de
"Caos Calmo", dirigido por Antonello Grimaldi, e também assina o longa-metragem como
um de seus roteiristas, adaptado do livro homônimo de Sandro Veronesi, sobre um homem em luto.
Com a morte de sua mulher,
Pietro Paladini (Moretti) perde o interesse em fazer qualquer coisa. Um dia, depois de
levar a filha Claudia (Blu Yoshimi) à escola, ele se deixa ficar
num banco de praça em frente
ao colégio, até que as aulas terminem, e a menina o reencontre no portão.
Os dias de tormento emocional e imobilidade física -o caos
calmo de que fala o título-
passam a ser uma rotina na vida de Pietro, ou o seu método
particular de elaborar o luto e
de, aos poucos, retomar o convívio social.
"O luto é um pretexto para o
protagonista poder parar, o
que me parece ser o verdadeiro
tema do filme", disse Antonello, ontem, em Berlim.
Sexo e protestos
Na entrevista coletiva sobre
o filme, Moretti se irritou
quando um jornalista italiano
mencionou os protestos de um
bispo italiano à extensa cena de
sexo de seu personagem em
"Caos Calmo".
"Esse tipo de reação da igreja
não é novidade na Itália. A novidade é que, agora, isso ganhe
tanta proporção na imprensa",
disse Moretti.
Antonello afirmou que todas
as escolhas que fez sobre a maneira de filmar a cena levaram
em conta o fato de que se trata
de um momento fundamental
no percurso do personagem
-daí sua extensão- e é "uma
cena de sexo, não de amor"
-daí seu realismo.
Comédia de Mike Leigh
Embora a maior parte dos 21
longas em competição nesta
58ª edição do Festival de Berlim tenha tramas dramáticas, o
filme que mais movimentou a
disputa foi uma comédia, exibida anteontem.
"Happy-Go-Lucky" (desencanado), do britânico Mike
Leigh, acompanha a invariavelmente otimista e sorridente
professora primária Poppy
(Sally Hawkins) dividindo o
trabalho e a alegria com as amigas e, ao mesmo tempo, lidando
com os problemas, o pessimismo e o mau-humor alheios.
Esses últimos são encarnados sobretudo por Scott (Eddie
Marsan), o professor de auto-escola com quem Poppy tenta
aprender a dirigir e que, a cada
aula, despeja sobre ela um turbilhão de ressentimentos
-contra o sistema educacional
do país, os cidadãos de esquerda, em particular, e os outros
motoristas em geral.
A Coréia do Sul também já
apresentou seu candidato no
festival. "Bam gua Nat" (noite e
dia), de Hong Sang-soo, trata,
em duas horas e 25 minutos,
dos embaraços amorosos de
um homem com sua mulher, a
ex-namorada e a amante.
O francês de origem armênia
Robert Guédiguian (de "A Cidade Está Tranqüila") exibiu
ontem seu concorrente, "Lady
Jane", um filme noir sobre o tema da vingança.
Hoje, haverá a exibição dos
últimos filmes da competição.
A premiação acontece neste
sábado.
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