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NINA HORTA
O corpo e a comida
E a Nigella Sexy? Impossível cozinhar com aquilo balançando sobre a panela
OS LEITORES, alguns pelo menos, são nostálgicos. O de 60
anos chorou, o de 41 sente
saudades de lança-perfume, mas
afirma que não é nada saudosista. Já
vou avisando que também não sou.
Não sou mesmo. Mas, de vez em
quando, é bom lembrar o passado e
os costumes.
Em matéria de comida, só choro
pelo frango ensopado da mãe, porque ninguém sabe fazer outro igual.
Meu filho escutou este assunto de
comida de alma, coisas que caíram
num buraco fundo e sumiram.
"Qual o problema? O tal do buraco
fundo onde as comidas sumiram fica no Senzala, na praça Panamericana. Frango à passarinho, filé à cubana, camarão à grega, tá tudo lá."
Então, na verdade, fazemos um
pouco de gênero. Claro que mudou o
Carnaval, como não mudaria? Neste
ano me diverti observando as mulheres na TV. Se tenho saudade da
celulite? É claro que não. Quase todas parecem deusas gregas, olímpicas, malhadas até não poder, outras
só esculturais, muita ginástica e algumas pequenas próteses.
Logo no começo desta coisa de
transformação, uma cliente fez
plástica de seio e foi nos visitar,
depois, fortezinha. Tivemos curiosidade, minha sócia e eu, como teria
ficado? Ela não se fez de rogada.
Puxou a camiseta pela cabeça e lá
estava a mudança. Podíamos pegar,
pesar, avaliar.
As partes que são feitas, esculpidas, lipoaspiradas, não são consideradas mais como nossas. Mostramos como se fosse uma cicatriz de
cesárea. Alguém tem vergonha de cicatriz? Não. Nem dos novos peitos,
não são nossos, foram feitos pela
mão do homem. Uma peça substituta. Podemos mostrar como um produto comprado, bonito, que nos
agradou e que os outros têm direito
de ver, sopesar, perguntar quanto
custou. Foi isso que me divertiu nos
desfiles deste ano.
Comida dizem que havia muita
nos camarotes. Mas quanta comida
houvesse seria suplantada pelos peitos e bundas, que não eram de ninguém, eram de todos. Perderam a
característica de minha carne e viraram objetos bonitos, como vasos de
Murano... O que deixa todos muito
naturais e alegres, há quase nada a se
esconder, para falar a verdade, nada.
São vitrines. É caso para pensar, se
dessa robotização não virá a pureza
total. Então, "chega de saudade, a
realidade..."
Ainda na TV, os chefs-atores da
GNT me impressionam. Quando conheci o Gordon Ramsay, era simplesmente o melhor cozinheiro de
Londres, com fama de exigente e
que usava a palavra "fuck" como vírgula. E não há dinheiro algum que
faça um cozinheiro se atirar na TV
se não for uma vontade de atuar, de
experimentar outra carreira que
não a sua. E não venham me dizer
que não é um grande ator.
O programa "Hell's Kitchen", um
"Big Brother" culinário, é bem sem
graça, até de mau gosto para quem
gosta de comida. Mas não gostarmos
do programa não tira a verdade de
que, além de ser muito bem produzido, os atores levam jeito.
Aproveitaram depois o Ramsay
em outras séries, em casa, no campo,
pescando, caçando, tentando levantar restaurantes falidos, e ele deu
conta do recado como ator, coisa
de inglês, todos tem um Lawrence
Olivier dentro do chapéu.
Até o engraçadinho Jamie Oliver
aprendeu, é simpático com receitas
fáceis, campanhas interessantes.
Não quero dizer que Claude Troigros seja melhor ator do que cozinheiro, mas só apareceu de verdade
depois que enfrentou a TV com tanta naturrrralidade.
E a Nigella Sexy? Gordon Ramsay
confessa que o que mais queria na
vida, com a permissão da mulher,
era olhar os seios de Nigella, só
olhar. Impossível cozinhar com
aquelas coisas balançando sobre a
panela... E lambendo os dedos sensualmente, one, two, three... Oh,
shit, shit, bang, bangà.
ninahorta@uol.com.br
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