São Paulo, quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

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NINA HORTA

O corpo e a comida

E a Nigella Sexy? Impossível cozinhar com aquilo balançando sobre a panela

OS LEITORES, alguns pelo menos, são nostálgicos. O de 60 anos chorou, o de 41 sente saudades de lança-perfume, mas afirma que não é nada saudosista. Já vou avisando que também não sou. Não sou mesmo. Mas, de vez em quando, é bom lembrar o passado e os costumes.
Em matéria de comida, só choro pelo frango ensopado da mãe, porque ninguém sabe fazer outro igual. Meu filho escutou este assunto de comida de alma, coisas que caíram num buraco fundo e sumiram. "Qual o problema? O tal do buraco fundo onde as comidas sumiram fica no Senzala, na praça Panamericana. Frango à passarinho, filé à cubana, camarão à grega, tá tudo lá."
Então, na verdade, fazemos um pouco de gênero. Claro que mudou o Carnaval, como não mudaria? Neste ano me diverti observando as mulheres na TV. Se tenho saudade da celulite? É claro que não. Quase todas parecem deusas gregas, olímpicas, malhadas até não poder, outras só esculturais, muita ginástica e algumas pequenas próteses.
Logo no começo desta coisa de transformação, uma cliente fez plástica de seio e foi nos visitar, depois, fortezinha. Tivemos curiosidade, minha sócia e eu, como teria ficado? Ela não se fez de rogada. Puxou a camiseta pela cabeça e lá estava a mudança. Podíamos pegar, pesar, avaliar.
As partes que são feitas, esculpidas, lipoaspiradas, não são consideradas mais como nossas. Mostramos como se fosse uma cicatriz de cesárea. Alguém tem vergonha de cicatriz? Não. Nem dos novos peitos, não são nossos, foram feitos pela mão do homem. Uma peça substituta. Podemos mostrar como um produto comprado, bonito, que nos agradou e que os outros têm direito de ver, sopesar, perguntar quanto custou. Foi isso que me divertiu nos desfiles deste ano.
Comida dizem que havia muita nos camarotes. Mas quanta comida houvesse seria suplantada pelos peitos e bundas, que não eram de ninguém, eram de todos. Perderam a característica de minha carne e viraram objetos bonitos, como vasos de Murano... O que deixa todos muito naturais e alegres, há quase nada a se esconder, para falar a verdade, nada. São vitrines. É caso para pensar, se dessa robotização não virá a pureza total. Então, "chega de saudade, a realidade..."
Ainda na TV, os chefs-atores da GNT me impressionam. Quando conheci o Gordon Ramsay, era simplesmente o melhor cozinheiro de Londres, com fama de exigente e que usava a palavra "fuck" como vírgula. E não há dinheiro algum que faça um cozinheiro se atirar na TV se não for uma vontade de atuar, de experimentar outra carreira que não a sua. E não venham me dizer que não é um grande ator.
O programa "Hell's Kitchen", um "Big Brother" culinário, é bem sem graça, até de mau gosto para quem gosta de comida. Mas não gostarmos do programa não tira a verdade de que, além de ser muito bem produzido, os atores levam jeito.
Aproveitaram depois o Ramsay em outras séries, em casa, no campo, pescando, caçando, tentando levantar restaurantes falidos, e ele deu conta do recado como ator, coisa de inglês, todos tem um Lawrence Olivier dentro do chapéu.
Até o engraçadinho Jamie Oliver aprendeu, é simpático com receitas fáceis, campanhas interessantes. Não quero dizer que Claude Troigros seja melhor ator do que cozinheiro, mas só apareceu de verdade depois que enfrentou a TV com tanta naturrrralidade.
E a Nigella Sexy? Gordon Ramsay confessa que o que mais queria na vida, com a permissão da mulher, era olhar os seios de Nigella, só olhar. Impossível cozinhar com aquelas coisas balançando sobre a panela... E lambendo os dedos sensualmente, one, two, three... Oh, shit, shit, bang, bangà.


ninahorta@uol.com.br

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