São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Mônica Bergamo

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Levada louca

Estreia na maternidade e ambições internacionais aceleram ainda mais a rotina de Ivete Sangalo.
Por Lígia Mesquita

Fotos Leticia Moreira/Folha Imagem
Ivete em seu Cessna Citation II particular a caminho deSalvador

"Tem uma frutinha aí, Dito? Tô zambeta de fome!", diz a cantora Ivete Sangalo, no baianês de costume, ao assessor "braço direito" Benedito Espinheira. São 22h22. Acomodada na poltrona do avião particular, um Cessna Citation II, ela aguarda a decolagem devorando uma banana enquanto liga do iPhone para casa, "para checar o material": o marido, o nutricionista Daniel Cady, 24, e o filho Marcelo, de quatro meses. O bebê está dormindo. "Marcelinho é um cara nota mil, muito tranquilo", fala, antes de fazer o sinal da cruz e levantar voo de São Paulo rumo a Salvador.

 


Assim como Claudia Leitte, cantora que é sua maior concorrente no axé, e que foi tema de reportagem nesta coluna na semana passada, Ivete repete na intimidade a imagem que propaga na TV e nos palcos, de mulher sempre sorridente, com o entusiasmo de quem acaba de virar três latinhas de energético. Mas, nesse momento, enquanto se refestela no avião, ela se mostra exausta.

 


Minutos antes, havia deixado o estádio do Morumbi, onde abrira o show da cantora americana Beyoncé. Com maquiagem borrada, cílios postiços descolando das pálpebras, joelho ralado por uma queda no palco, pé machucado pelo salto alto apertado, ela se espreguiça e alonga os dedões no bico do tênis de Dito, que viaja na poltrona à sua frente.

 


Desde que Marcelo nasceu, em outubro, a cantora não dorme mais fora de casa quando faz show em outras cidades. Logo que o trabalho termina, voa para Salvador. "Ele tá com aquela carinha de sono, os olhos inchados e abre um sorriso. É bom demais!", diz ela, que, mãe estreante aos 37, fala em ter mais filhos.

 


Com o ziguezague mais intenso, ela teve de diminuir o número de shows -faz oito por mês, em vez dos 12 habituais. "Antes do meu filho nascer, eu não sabia dizer não. Hoje, tô certíssima das minhas posições, sem receios."

 


Desculpando-se pelo enésimo bocejo ao longo do trajeto, ela explica: "A mamãe aqui hoje acordou às 4h20 para amamentar. E faço tudo. Dou banho, troco a fralda, coloco para dormir. Ôxe, o filho é meu. Eu cuido de tudo!", diz. "Daniel também ajuda. Somos uma família organizadinha, equilibrada."

 


Como ainda está amamentando, Ivete sente os seios muito inchados. "Ai, gente, vou ter que ordenhar um pouquinho porque eles [os seios] estão explodindo", diz, apanhando o aparelho de sucção que extrai o leite materno. Com a baixa voltagem de dentro do avião, a maquininha não tem força para "puxar" o leite. "Uma vez, na gravação de um comercial, eu tive que tirar na mão", lembra. "Me enfiei no banheiro e tchoin, tchoin [fazendo o gesto de apertar as mamas]. Tirei 120 ml de leite na mão!"

 


A cantora tem conseguido preservar o filho das lentes dos fotógrafos, apesar dos vários pedidos e dos paparazzi que a seguem. "É apenas uma curiosidade ou é algo importante? Preservar meu filho não é inibir a curiosidade, mas fazer com que ele não seja castigado por isso", diz. "Vou ter minha vida com ele, sair na rua. Se alguém fotografar, beleza. Mas daí a eu propor a ele notoriedade pública, acho que não é justo." Para ela, Marcelo já vai ter uma vida diferente de outras crianças pelo fato de a mãe ser famosa.

 


Se a fama nacional impõe lá seus percalços, Ivete não esconde sua ambição de expandi-la internacionalmente. Ajudar a empresariar os shows de Beyoncé no Brasil (e, especialmente, abrir dois deles) faz parte desse projeto.

 


Em setembro, ela dará o maior de todos os passos nessa direção. Vai se apresentar no estádio Madison Square Garden, em Nova York, um palco, em sua visão, emblemático e que funciona como um cartão de visitas. "Conquistei o Brasil, meu país me aplaude. Quando falo em carreira internacional, não penso só nos EUA, mas em América do Sul, Europa, Ásia."

 


Ao brilhar, por enquanto, no showbiz baiano, ela não se diz rival de Claudia Leitte e Daniela Mercury. "Para que haja rivalidade é preciso que haja conhecimento mútuo das falhas, fraquezas. Não temos tempo para isso. Como vou ter rivalidade se minha vida tá tão boa assim?", diz ela, muito mais enfática quando elogia Daniela.

 


Passa da meia-noite quando o avião aterrissa em uma pista ao lado do aeroporto de Salvador. Ivete come agora um saco de pipoca Magrela, "uma pipoca especial de dieta, sei lá, feita no micro-ondas de Marte". Ela desembarca e dois seguranças aparecem trazendo seu jipe Pajero. Despede-se e assume a direção do carro.

 


Na saída, fãs a aguardam. Dito os repreende: "O que vocês estão fazendo aqui depois da meia-noite? Já falei que nesse horário não pode, porque não tem mais ônibus para vocês voltarem". Bronca dada, Ivete abre os vidros do carro para conversar. A maioria das meninas vem de outras cidades.

 


Uma delas veio do interior de São Paulo e tem o nome da cantora nas costas. Ela conta que trabalha em dois empregos, mas que sempre viaja para ver Ivete. "Ah, eu dou um jeito, pego atestado médico. Se Ivete faz show em Votuporanga... conjuntivite", exemplifica.

 


A cantora se despede e diz que precisa ir embora para ver o filho. O único garoto do grupo, então, grita: "Palmas para a diva! Palmas para a diva!" Ali, Ivete já é Beyoncé.


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