São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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Orçado em US$ 2 milhões, o espetáculo musical "Chicago" estréia em SP em abril

Cabaré da fama

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela mesma, corpo e rosto disputados por novelas e capas de revistas, Danielle Winits, 30, lança contraponto ao afirmar que a notoriedade pode ser indicativo de "doença" nos tempos em que show e realidade se confundem.
"Hoje, o foco está na celebridade instantânea. Eu mesma mato um leão por dia. Não é à toa que estou aqui", diz a atriz.
"Aqui" é o terceiro dia de ensaios para o espetáculo musical "Chicago", na quarta-feira passada, em São Paulo. Winits será uma das protagonistas, a sedutora vedete Velma Kelly, no auge da carreira. Passos em falso, porém, levam a personagem à prisão, acusada de assassinato. Idem para outra dançarina com quem divide a cela, Roxie Hart (Adriana Garambone), que radicaliza em seu sonho de estrelato. Roxie contrata um advogado, Billy Flynn (Daniel Boaventura), que lhe promete as páginas dos jornais. Oportunista, tampouco Flynn poupará charme (e poder) para chegar à fama.
É o ponto de partida da história escrita pela jornalista americana Maurine Dallas Watkins (1896-1969), inspirada em fatos (dançarinas de cabaré detidas sob acusação de assassinato em 1924, numa Chicago tomada pelo crime organizado) e alçada a espetáculo musical em 1975 na Broadway, criação do diretor e coreógrafo americano Bob Fosse (1927-1987), com letras de Fred Ebb e música de John Kander.
A montagem atual, que reestreou em 1996, sofreu modificações pela viúva de Fosse, a atriz e dançarina Ann Reinking.
"Chicago" também ganhou versão para o cinema em 2002, sob direção de Rob Marshall. No elenco, Renée Zellweger, Catherine Zeta-Jones e Richard Gere.
O sétimo grande musical da CIE Brasil, vinculada à multinacional mexicana de entretenimento, que opera no país desde 1999, atravessou a primeira das cinco semanas de ensaios num teatro alugado na região do Bexiga.
São um total de 23 atores-cantores-bailarinos e 14 músicos. Orçado em US$ 2 milhões (cerca de R$ 5,8 milhões), o espetáculo tem pré-estréias de 22/4 a 28/4 e estréia para o público em geral no dia 29/4.
Nas roupas de ensaio para música, coreografia e interpretação, já domina o preto dos futuros figurinos. Nesta primeira fase, são seis horas diárias de trabalho. A maioria dos artistas foi selecionada em audição com cerca de 300 candidatos (3.000 currículos).
Parte dos atores e equipe técnica ouvida pela Folha, a maioria de produções anteriores da CIE, tem a percepção de que "Chicago" os coloca num grau a mais de exigência pelo despojamento.
Ao contrário de "A Bela e a Fera" (2002), produção anterior da empresa, aqui os efeitos, quando existem, decorrem da iluminação ou essencialmente da movimentação do coro. Não há maquinários, figurinos pesados. "É dança e canto puros, por isso mais completo e exigente para o intérprete", diz o diretor da divisão de teatro da CIE Brasil, Jorge Takla, 52.
"Vamos dar a cara a tapa todos os dias", afirma Daniel Boaventura, 33, um amante do jazz que toca saxofone desde os 16 anos.
Em "Chicago", a música de arranjos sofisticados interage o tempo todo como um personagem-chave. Os instrumentistas não ficam no fosso, mas no centro do palco, ao fundo. Em algumas cenas, o maestro Miguel Briamonte irá contracenar com os protagonistas, em intervenções breves.
"O espetáculo musical serve mais ao meu lado cantora, nos shows, do que eu propriamente a ele. Quem dita aqui é a personagem", diz Selma Reis, intérprete da vilã Mama, uma carcereira (todas as letras em inglês versam em português). O mais recente disco de Reis, "Vozes", o sétimo, é um dueto com Cauby Peixoto.



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