São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2005

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PERSONALIDADE

Processo avança na fase de testemunhos, com relatos explícitos de pedofilia e até de uma suposta tentativa de suborno

Caso Michael Jackson enfileira depoimentos chocantes

JERME BERNARD
DA FRANCE PRESSE, EM SANTA MARIA

Após cerca de dois meses, a maioria das testemunhas convocadas para prestar depoimento sobre as acusações de abuso sexual de cinco menores na década de 1990 contra Michael Jackson já compareceu ao tribunal de Santa Maria, Califórnia. Acusado de ter abusado sexualmente de um garoto de 13 anos, na época, entre fevereiro e março de 2003, em sua fazenda Neverland, na Califórnia, Jackson passou mais semanas ouvindo depoimentos acusadores relativos a fatos supostamente ocorridos na década passada.
O cantor nunca escondeu o fato de que gosta de viver rodeado de crianças. No documentário "Living with Michael Jackson" ("Vivendo com Michael Jackson"), do jornalista britânico Martin Bashir, exibido em fevereiro de 2003 nos Estados Unidos, o cantor aparece ao lado de sua suposta vítima e diz que dormir com crianças é algo inocente.
Na última segunda, a mãe de outra suposta vítima de Jackson afirmou que seu filho passou muitas noites no quarto do cantor em 1993, durante visitas à sua fazenda ou em viagens a Las Vegas, Flórida, Mônaco e Nova York.
De acordo com a testemunha, Jackson lhe disse que eles formavam "uma família". "Somos uma família, e (o garoto) está se divertindo. Por que não podemos dormir juntos?", Jackson lhe teria perguntado. "Por que você não confia em mim?", lhe perguntou, "chorando e tremendo".
Outra testemunha, Bob Jones, ex-assessor publicitário do cantor, contou que, quando voltavam de uma viagem a Mônaco, o cantor e o menino dormiam "abraçados, e Jackson lambeu sua cabeça". Na semana passada, o júri ouviu vários depoimentos chocantes e explícitos sobre o comportamento de Jackson com meninos. Um ex-segurança de Neverland, Ralph Chacon, afirmou ter visto o cantor, em 1993, "acariciando o cabelo do garoto. Ele o estava beijando (...), beijando seus mamilos". Em seguida, "pôs o pênis do menino em sua boca".
Um jovem, filho de um empregado da fazenda, contou que foi tocado por Jackson no início dos anos 1990. Em uma ocasião, estava sentado no colo de Jackson, e este começou a lhe fazer cócegas. "De alguma maneira, terminamos no chão (...). De alguma maneira, ele passou para minhas partes íntimas, onde estão meus genitais", disse, contando ainda que o músico tocou seus testículos durante dois ou três minutos.
A mãe do garoto, ex-empregada de Jackson, disse ter visto o cantor tomando banho de chuveiro com um garoto australiano de sete ou oito anos e também deitado num saco de dormir com seu filho, num quarto escuro, vendo TV. A mulher afirmou que garotos freqüentemente dormiam no quarto de Jackson, onde muitas vezes se viam "roupas de menino pelo chão". Outra ex-criada, Adrian McManus, declarou ter visto o cantor beijar três meninos e tocar suas nádegas ou braguilhas. Disse que esses meninos dormiam habitualmente na cama do astro entre 1991 e 1994.
O advogado principal de Jackson, Tom Mesereau, por sua vez, tenta desacreditar todas essas testemunhas, insistindo sobre as motivações econômicas que teriam para acusar o cantor.
O padrasto do garoto que aparece em "Vivendo com Michael Jackson" disse em testemunho na terça que, após a exibição do documentário britânico, Frank Tyson, um sócio do astro, ofereceu para a família o financiamento da educação dos garotos e uma casa. Em troca, eles fariam uma gravação inocentando Jackson.


Tradução Clara Allain

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