São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2005

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Com mercado eufórico, NY abre suas galerias aos jovens pintores

HARRY BELLET
DO "LE MONDE", EM NOVA YORK

Nos Estados Unidos, o mercado de arte contemporânea vem passando por uma euforia que algumas pessoas não hesitam em comparar à dos anos 80. A prova é o que vem acontecendo com os artistas muito jovens apresentados na exposição "Greater New York". A mostra acontece na PS1, o mais importante centro de arte contemporânea de Nova York, que se fundiu com o Museu de Arte Moderna (MoMA) em 1999. O projeto, que está em sua segunda edição, envolve a escolha de jovens artistas da cidade.
A PS1 já reúne 164 nomes, e a tendência dominante no projeto é a pintura e o desenho. Jerry Saltz, crítico do jornal "Village Voice", constatou que 34 deles, ou cerca de 20% dos artistas expostos, são alunos ou acabam de se formar na Universidade Columbia. Acrescenta que quase todos realizaram exposições individuais e contam com galerias que exibem seus trabalhos regularmente. Uma aluna da Columbia resume o espírito do momento: "A principal preocupação dos meus colegas de curso não é o que deveriam pintar, mas qual galeria escolher e como fixar seus preços".
Esse frenesi pode ser constatado em qualquer uma das 400 galerias ativas no bairro de Chelsea, em Nova York, e era visível nas duas últimas edições da Feira de Arte de Miami, cujos estandes oficiais estavam repletos de compradores.
A tendência foi confirmada na grande feira de artes de Nova York, o Armory Show, em março, onde a atividade mais elegante consistia em furar a fila ou entrar antes da abertura oficial da exposição para comprar antes dos outros. Para os colecionadores retardatários, o mais recente costume adotado pelas galerias de arte de Nova York é a lista de espera.
As listas dos artistas mais procurados são longas. No caso do alemão Neo Rauch, 40 pessoas, no de Luc Tuymans, 50. A revista "New York" publicou um ranking dos artistas emergentes, encabeçado por Dana Schutz. É uma pintura infantilizada, suja, colorida e saturada, de onde emergem personagens que comem. Ou que se devoram a si mesmas. Schutz é representada em Nova York pela galeria Zach Feuer. Ela já consta das coleções privadas de Rubell e Saatchi, e seus trabalhos já fazem parte do acervo do museu Guggenheim de Nova York.
As listas de espera geram inflação. Em 2003, um desenho de Julie Mehretu, vendido anteriormente por US$ 20 mil (R$ 51,79 mil), atingiu o triplo em leilões.
As galerias, além de assinarem contratos com os artistas, agora o fazem também com os colecionadores. Em uma edição recente do "Journal des Artes", Roxana Azimi revelou que parte das obras da nova escola de Leipzig expostas com a coleção de Don e Mera Rubell na última Feira de Arte de Miami não pertencia aos colecionadores, mas lhes havia sido "emprestada" por uma galeria. O nome de Rubell incitaria outros colecionadores a comprar.
Nos anos 50, as galerias norte-americanas ofereciam as obras de seus clientes aos museus, o que as legitimava aos olhos de seus clientes. A idéia persiste, permitindo que o trabalho do artista seja integrado ao acervo de um museu, aumentando seu valor. E é passível de dedução nos impostos.


Tradução Paulo Migliacci

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