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COMIDA
Abra a boca e feche os olhos!
Restaurantes adotam o serviço em que o chef escolhe o que o cliente vai comer
CRISTIANE LEONEL
DA REDAÇÃO
A expressão da brincadeira infantil virou coisa de adulto e ganhou o nome de Menu Confiance.
Filho mais arteiro do menu-degustação -já disponível em diversos restaurantes- em que se
prova um pouco de tudo, em porções menores do que as habituais,
e se paga pelo pacote completo
(entradas, pratos principais e sobremesas), o Menu Confiance se
diferencia pelo fato de o cliente
não saber o que vai provar, pois
quem escolhe os pratos é o chef.
O Menu Confiance foi implementado no Brasil em 1988 pelo
chef Emmanuel Bassoleil, no restaurante Roanne, porém só nos
últimos meses outros restaurantes renomados passaram a servi-lo, como o All Seasons e o Café
Antiqüe, que iniciaram o serviço
em fevereiro, o La Rochelle, que
oferece o menu desde março, e o
Tri Boo, há cerca de 15 dias.
Como não se pode escolher os
pratos, vale optar por um chef (ou
restaurante) cujo trabalho seja de
sua confiança (como o nome diz).
A aventura gastronômica começa
em geral com a pergunta do maître: "Você tem alguma restrição?".
Se sim, abra o jogo sem pestanejar, se não, faça um sinal com a cabeça, segure os talheres e prepare-se para talvez comer cordeiro, ostra e escargô em uma só noite.
No Café Antiqüe, cuja cozinha é
comandada por Pier Paolo Picchi,
o chef costuma respeitar uma seqüência clássica, começando por
pratos frios e mais suaves, servindo aos poucos comidas mais encorpadas. "Costumo sair da cozinha para dar uma olhada na mesa. Se for a primeira vez do cliente,
faço os pratos conforme meu humor, caso contrário, procuro
nunca repetir o que fiz antes",
conta Picchi. A experiência -e
inventividade- do chef não sai
barata: o menu completo, sem bebidas, custa R$ 160.
Mesmo fazendo as mais diversas variações, o chef do All Seasons, Christophe Besse, usa o que
tem de mais fresco na cozinha e
quase sempre fecha a degustação
com o Desejo de Chocolate (uma
verdadeira construção arquitetônica, com direito a tabletes de
chocolate, musse de limão, creme
de amêndoas e sorvete de gianduia). "O bom do Menu Confiance é que as pessoas podem conhecer melhor o nosso trabalho",
contenta-se o chef.
Ao contrário das opções de Picchi, a comida de Besse tem um
tempero bem menos sutil, tanto
que ele faz intervenções, entre um
prato e outro, com comidas refrescantes, como o
sorbet de cupuaçu e a
granita (um tipo de
sorvete bem cremoso)
de beterraba e laranja.
"Além de refrescar, este tipo de prato também abre o apetite",
complementa. Pelo
menu no All Seasons
paga-se R$ 138 por
pessoa.
Outro chef que incorporou o serviço é
Alex Atala, do D.O.M.,
mas mantendo o termo menu-degustação.
"Na primeira vez que
vou a um restaurante, prefiro pedir o Menu Confiance. É uma forma de provar, geralmente, o que
tem de melhor na cozinha", explica Atala.
No Tri Boo, restaurante mais
despojado que nasceu da fusão do
TriBeCa com o Boo, o Menu Confiance recebe o nome de Menu
Mandarim, respeitando a tendência asiática da cozinha da casa
(resquício do TriBeCa). Tico Gelpi, um dos responsáveis pela cozinha (e também um dos sócios),
geralmente serve alguns dos "preferidos" da casa, como o camarão
à Pequim (com o crustáceo coberto por molho agridoce e macarrão
de arroz), e adiciona alguns pratos que não estão no cardápio. E,
para encerrar a "brincadeira",
que sai por R$ 88 por pessoa, Gelpi costuma agradar os clientes
(principalmente as mulheres)
com uma sobremesa de bolinhas
de chocolate com crosta crocante,
cujo conceito bem lembra o menu
do qual faz parte: quando rompidas, as bolinhas, acompanhadas
de sorvete de creme e envoltas por
canela, fazem esparramar, surpreendentemente, uma calda
morna de chocolate. Apenas mais
uma das brincadeiras da gastronomia.
Roleta-russa
O arquiteto Gabriel Garbin, 30,
nunca havia ido ao restaurante
Sabuji e, logo na primeira vez que
visitou o local, aceitou participar
da "brincadeira" proposta por Bel
Coelho, chef da casa. "Apesar de
ter participado de situações parecidas em Roma, fiquei com uma
grande expectativa e achei a experiência maravilhosa."
Apesar de já ter provado o Menu Confiance em alguns restaurantes, o médico e presidente da
Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), Mário Telles Jr., 57, é
totalmente contra a prática. "Se
você já tem uma relação antiga e
de confiança com o chef, como a
que tenho com o [Christophe]
Besse, tudo bem, mas ficar fazendo roleta-russa? Eu não vou a um
restaurante para comer o que o
chef quer. Eu vou ao restaurante
para ter prazer. Tem chef que
acha que é estrela. Lugar de estrela
é em Hollywood", afirma.
O empresário Lucas Dorador
Guimarães, 23, nunca tinha experimentado um Menu Confiance e
não quis fazer restrições ao prová-lo no All Seasons. "Eles acabaram
me trazendo um prato com escargô, que não é muito do meu paladar, mas achei a experiência interessante mesmo assim."
O administrador Jorge Augusto
Alves, 50, foi ao Tri Boo e também
gostou da experiência, mas já conhecia o trabalho do TriBeCa. "Eu
procuro conhecer o restaurante
antes, como um prato ou outro e
só depois faço um menu-degustação", completa Alves.
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