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POP
Disco de Badi Assad tem repertório eclético
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A Deutsche Grammophon,
gravadora alemã com a qual
Badi Assad tem contrato, enviou
200 músicas para que ela escolhesse o repertório de seu novo
CD. Só sobrou uma: "Sweet
Dreams", do Eurythmics.
Nascida Mariangela Assad Simão em São João da Boa Vista
(SP), Badi vem construindo há
duas décadas, como cantora e
violonista, uma peculiar carreira
internacional, em que as escolhas
seguem critérios particulares.
"Wonderland", disco que está
lançando, confirma isso. Para lá
de eclético, o repertório, que concilia Gonzaguinha com Asian
Dub Foundation, Billy Blanco
com o grego Vangelis, encontra
um conceito no jeito de Badi querer falar sobre o mundo.
"O que une essas músicas é o
conteúdo das letras, que tratam
de assuntos dissonantes, fora de
foco, e mostram uma certa fragilidade humana", acredita ela.
Nesse rol, na visão de Badi, cabem a prostituição, discreto pano
de fundo de "O Mundo É um
Moinho" (Cartola); o estupro, referido em "Black Dove" (Tori
Amos); a violência doméstica, tema de "1000 Mirrors" (Asian Dub
Foundation); a soberba racista, ridicularizada em "A Banca do Distinto" (Billy Blanco); e a diluição
das identidades culturais, criticada em "From United States of
Piauí" (Gonzaguinha).
A palavra-chave parece ser ambigüidade. A suavidade sonora do
CD contrasta com o peso de alguns temas. É como se as canções
pudessem ser agradavelmente
ouvidas na superfície ou incomodar aqueles que partilharem das
visões de Badi. O título resume a
idéia da artista, pois Wonderland
é o país das maravilhas para onde
vai Alice no romance de Lewis
Carrol e no qual o que parece singelo também se mostra violento.
O CD começou a ser concebido
como fundamentalmente alegre,
mas mudou um pouco de rumo
depois que Badi perdeu o filho
que esperava. Foi mais uma curva
na vida e na carreira dela, que resolveu investir com força em seu
lado cantora nos dois anos que ficou sem tocar violão por causa de
uma doença chamada distonia focal. "Hoje me sinto tão cantora
quanto instrumentista. São as
duas coisas juntas que me diferenciam", diz ela, irmã de Sérgio e
Odair, do Duo Assad.
"Sweet Dreams", as duas músicas de Lenine ("Acredite ou Não"
e "Distantes Demais"), "O Mundo É um Moinho" e "One More
Kiss, Dear" (Skellern/Vangelis, da
trilha do filme "Blade Runner")
são os pontos altos de um CD irregular no repertório, mas coeso na
qualidade dos arranjos e da voz.
Na última faixa, ela aparece
quando criança cantando "Estrada do Sol" (Tom Jobim/Dolores
Duran). "Na inocência que há nas
crianças está a esperança de que é
possível mudar as coisas", diz Badi, que faz shows no Sesc Pompéia
nos próximos dias 22 e 23.
Wonderland
Artista: Badi Assad
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 33, em média
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