São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POP

Disco de Badi Assad tem repertório eclético

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A Deutsche Grammophon, gravadora alemã com a qual Badi Assad tem contrato, enviou 200 músicas para que ela escolhesse o repertório de seu novo CD. Só sobrou uma: "Sweet Dreams", do Eurythmics.
Nascida Mariangela Assad Simão em São João da Boa Vista (SP), Badi vem construindo há duas décadas, como cantora e violonista, uma peculiar carreira internacional, em que as escolhas seguem critérios particulares.
"Wonderland", disco que está lançando, confirma isso. Para lá de eclético, o repertório, que concilia Gonzaguinha com Asian Dub Foundation, Billy Blanco com o grego Vangelis, encontra um conceito no jeito de Badi querer falar sobre o mundo.
"O que une essas músicas é o conteúdo das letras, que tratam de assuntos dissonantes, fora de foco, e mostram uma certa fragilidade humana", acredita ela.
Nesse rol, na visão de Badi, cabem a prostituição, discreto pano de fundo de "O Mundo É um Moinho" (Cartola); o estupro, referido em "Black Dove" (Tori Amos); a violência doméstica, tema de "1000 Mirrors" (Asian Dub Foundation); a soberba racista, ridicularizada em "A Banca do Distinto" (Billy Blanco); e a diluição das identidades culturais, criticada em "From United States of Piauí" (Gonzaguinha).
A palavra-chave parece ser ambigüidade. A suavidade sonora do CD contrasta com o peso de alguns temas. É como se as canções pudessem ser agradavelmente ouvidas na superfície ou incomodar aqueles que partilharem das visões de Badi. O título resume a idéia da artista, pois Wonderland é o país das maravilhas para onde vai Alice no romance de Lewis Carrol e no qual o que parece singelo também se mostra violento.
O CD começou a ser concebido como fundamentalmente alegre, mas mudou um pouco de rumo depois que Badi perdeu o filho que esperava. Foi mais uma curva na vida e na carreira dela, que resolveu investir com força em seu lado cantora nos dois anos que ficou sem tocar violão por causa de uma doença chamada distonia focal. "Hoje me sinto tão cantora quanto instrumentista. São as duas coisas juntas que me diferenciam", diz ela, irmã de Sérgio e Odair, do Duo Assad.
"Sweet Dreams", as duas músicas de Lenine ("Acredite ou Não" e "Distantes Demais"), "O Mundo É um Moinho" e "One More Kiss, Dear" (Skellern/Vangelis, da trilha do filme "Blade Runner") são os pontos altos de um CD irregular no repertório, mas coeso na qualidade dos arranjos e da voz.
Na última faixa, ela aparece quando criança cantando "Estrada do Sol" (Tom Jobim/Dolores Duran). "Na inocência que há nas crianças está a esperança de que é possível mudar as coisas", diz Badi, que faz shows no Sesc Pompéia nos próximos dias 22 e 23.


Wonderland
    Artista: Badi Assad Gravadora: Universal Quanto: R$ 33, em média



Texto Anterior: CDS - Raridade: Tim "Racional", agora em CD, sobrevive à viagem mística
Próximo Texto: Música: Sem Rita, Mutantes voltam com Zélia Duncan
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.