São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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NOITE

Aparelhinho que toca MP3 facilita animação de festas

Febre do iPod escala "iDJs" amadores para tocar em clubes de São Paulo

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Nos anos 90, Beck cantava "que duas pick-ups e um microfone faziam tudo". Hoje, a história começa a mudar. Se o verso do músico fosse adaptado para os anos 2000, seria algo como "um iPod e um cabo fazem a festa".
A mania do aparelhinho que toca MP3 faz com que qualquer um, mesmo aqueles que não possuem a técnica e a habilidade necessárias para manipular pick-ups, tomem gosto pela brincadeira de DJ. No caso, a mixagem, passagem de uma música para outra, preocupação máxima dos que tocam profissionalmente, e manobras, como distorcer o som e alterar o ritmo das músicas, são as coisas que menos importam.
A palavra predileta dos "iDJs" é diversão. "O que importa em uma festa é ficar com os amigos e se divertir. Quando toco, a minha preocupação é com isso, não com a técnica", afirma o produtor musical e integrante da banda Cansei de Ser Sexy Adriano Cintra, 32.
Cintra faz parte de um grupo que cresce na mesma medida que a febre do iPod, o daqueles que não querem fazer carreira como DJs, mas sim se divertir em festinhas tocando para os amigos.
"Antes, para tocar, você precisava gravar CDs, anotar que faixa tinha em cada um deles e torcer para a música não pular. Hoje levo o meu aparelho e está tudo bem."
Cintra tem uma técnica especial para lembrar das músicas na hora de tocar. "Tenho várias listas [as chamadas playlists, listas de músicas que você faz no computador e passa para o iPod], uma delas, por exemplo, chama "quentinho", que é a que eu uso quando vou dormir. Serve para festas calmas. Sei mais ou menos qual música está em cada lista e, por isso, não me perco no meio das mais de mil músicas que tenho."
Quando vai tocar, Cintra leva, além do iPod, uns quatro CDs, "só para fazer a passagem de uma música para outra". E se a passagem não ficar perfeita? "Não ligo. Acho que essa preocupação com a técnica é uma coisa muito anos 90. Parece coisa de metaleiro, que acha que precisa tocar não sei quantos acordes", diz.
Adriano, como outros "iDJs", sonha em ter um iDJ (mixer de iPod, parecido com aquelas normais para dois CDs ou vinis). O objeto do desejo da hora é o recém-lançado iDJ2, que permite que você toque com apenas um iPod e ainda mude a velocidade das músicas.

Não-DJ
O stylist Rogério S já experimentou brincar com um iDJ. E adorou. Ele não se considera um DJ, mas passou a tocar em festas e na noite carioca por causa do "vício" em iPod. "Eu sempre gostei de música. Agora, fiquei viciado em MP3, procuro mais informação musical e os amigos começaram a me chamar para tocar."
Na última festa em que tocou, no Rio de Janeiro, no clube Dama de Ferro, Rogério escreveu no flyer que era um "não-DJ". "Não sou mesmo, mas posso fazer isso como diversão em clubes que abrem espaço para isso e em casas de amigos. Não tenho a pretensão de me profissionalizar."
A designer Cris Naumovs, 28, também começou a brincar com seu iPod despretensiosamente. "Usava para tocar em festas de amigos e clubes como o Berlin [na Barra Funda]." Só que, no caso dela, a mania virou trabalho. Cris é responsável pela trilha dos restaurantes Ritz e Spot, dois dos mais badalados de São Paulo.
No cardápio sonoro, 30 playlists por mês (uma trilha por dia). "Faço um som diferente pensando na hora do almoço e do jantar. Misturo MPB com coisas modernas."
E se o som ambiente dos restaurantes evoluiu? Bem, basta dizer que antes um CD ficava tocando inteiro. Hoje, as músicas não são repetidas. Cris grava cerca de 3.000 músicas por mês nos iPods que ficam nos restaurantes.
DJs concordam que esse é o tipo ideal de uso para o iPod por enquanto (veja texto ao lado). "O trabalho do DJ é sentir a pista, ver do que as pessoas estão gostando. Deixar uma playlist tocando só como música ambiente", diz o DJ Luca Lauri, residente do clube Vegas, na rua Augusta.


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