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NOITE
Aparelhinho que toca MP3 facilita animação de festas
Febre do iPod escala "iDJs" amadores para tocar em clubes de São Paulo
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Nos anos 90, Beck cantava "que
duas pick-ups e um microfone faziam tudo". Hoje, a história começa a mudar. Se o verso do músico fosse adaptado para os anos
2000, seria algo como "um iPod e
um cabo fazem a festa".
A mania do aparelhinho que toca MP3 faz com que qualquer um,
mesmo aqueles que não possuem
a técnica e a habilidade necessárias para manipular pick-ups, tomem gosto pela brincadeira de
DJ. No caso, a mixagem, passagem de uma música para outra,
preocupação máxima dos que tocam profissionalmente, e manobras, como distorcer o som e alterar o ritmo das músicas, são as
coisas que menos importam.
A palavra predileta dos "iDJs" é
diversão. "O que importa em uma
festa é ficar com os amigos e se divertir. Quando toco, a minha
preocupação é com isso, não com
a técnica", afirma o produtor musical e integrante da banda Cansei
de Ser Sexy Adriano Cintra, 32.
Cintra faz parte de um grupo
que cresce na mesma medida que
a febre do iPod, o daqueles que
não querem fazer carreira como
DJs, mas sim se divertir em festinhas tocando para os amigos.
"Antes, para tocar, você precisava gravar CDs, anotar que faixa tinha em cada um deles e torcer para a música não pular. Hoje levo o
meu aparelho e está tudo bem."
Cintra tem uma técnica especial
para lembrar das músicas na hora
de tocar. "Tenho várias listas [as
chamadas playlists, listas de músicas que você faz no computador
e passa para o iPod], uma delas,
por exemplo, chama "quentinho",
que é a que eu uso quando vou
dormir. Serve para festas calmas.
Sei mais ou menos qual música
está em cada lista e, por isso, não
me perco no meio das mais de mil
músicas que tenho."
Quando vai tocar, Cintra leva,
além do iPod, uns quatro CDs, "só
para fazer a passagem de uma
música para outra". E se a passagem não ficar perfeita? "Não ligo.
Acho que essa preocupação com a
técnica é uma coisa muito anos
90. Parece coisa de metaleiro, que
acha que precisa tocar não sei
quantos acordes", diz.
Adriano, como outros "iDJs",
sonha em ter um iDJ (mixer de
iPod, parecido com aquelas normais para dois CDs ou vinis). O
objeto do desejo da hora é o recém-lançado iDJ2, que permite
que você toque com apenas um
iPod e ainda mude a velocidade
das músicas.
Não-DJ
O stylist Rogério S já experimentou brincar com um iDJ. E
adorou. Ele não se considera um
DJ, mas passou a tocar em festas e
na noite carioca por causa do "vício" em iPod. "Eu sempre gostei
de música. Agora, fiquei viciado
em MP3, procuro mais informação musical e os amigos começaram a me chamar para tocar."
Na última festa em que tocou,
no Rio de Janeiro, no clube Dama
de Ferro, Rogério escreveu no
flyer que era um "não-DJ". "Não
sou mesmo, mas posso fazer isso
como diversão em clubes que
abrem espaço para isso e em casas
de amigos. Não tenho a pretensão
de me profissionalizar."
A designer Cris Naumovs, 28,
também começou a brincar com
seu iPod despretensiosamente.
"Usava para tocar em festas de
amigos e clubes como o Berlin [na
Barra Funda]." Só que, no caso
dela, a mania virou trabalho. Cris
é responsável pela trilha dos restaurantes Ritz e Spot, dois dos
mais badalados de São Paulo.
No cardápio sonoro, 30 playlists
por mês (uma trilha por dia). "Faço um som diferente pensando na
hora do almoço e do jantar. Misturo MPB com coisas modernas."
E se o som ambiente dos restaurantes evoluiu? Bem, basta dizer
que antes um CD ficava tocando
inteiro. Hoje, as músicas não são
repetidas. Cris grava cerca de
3.000 músicas por mês nos iPods
que ficam nos restaurantes.
DJs concordam que esse é o tipo
ideal de uso para o iPod por enquanto (veja texto ao lado). "O
trabalho do DJ é sentir a pista, ver
do que as pessoas estão gostando.
Deixar uma playlist tocando só
como música ambiente", diz o DJ
Luca Lauri, residente do clube Vegas, na rua Augusta.
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