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A incredulidade fanática
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A sugestão é uma arte perdida. Poucos espectadores
conseguirão se emocionar
com um filme como "O Rei
dos Reis" (TCM, às 22h), de
Nicholas Ray dos Rays.
Mas "A Paixão de Cristo"
(Fox, 22h) de Mel Gibson
causou comoção quando
exibido nos cinemas, há
pouco tempo. Ora, a "Paixão" parece filme de terror
do fim da velha Hammer,
onde a sangueira substituía
a força das tensões. Nele
não basta perceber o que
Cristo sofreu, é preciso ainda que cada chicotada ressoe em dolby pela sala, que
o sangue jorre, ver as chagas
explodirem à nossa vista.
O transe místico é assim
obtido tão mais eficazmente quanto o Cristo se mostra
como corpo, como humano. O Cristo de Gibson pode ser obra de um fanático,
sem dúvida, mas esse fanático sabe que nós já não
acreditamos em nada.
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