São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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A incredulidade fanática

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A sugestão é uma arte perdida. Poucos espectadores conseguirão se emocionar com um filme como "O Rei dos Reis" (TCM, às 22h), de Nicholas Ray dos Rays.
Mas "A Paixão de Cristo" (Fox, 22h) de Mel Gibson causou comoção quando exibido nos cinemas, há pouco tempo. Ora, a "Paixão" parece filme de terror do fim da velha Hammer, onde a sangueira substituía a força das tensões. Nele não basta perceber o que Cristo sofreu, é preciso ainda que cada chicotada ressoe em dolby pela sala, que o sangue jorre, ver as chagas explodirem à nossa vista.
O transe místico é assim obtido tão mais eficazmente quanto o Cristo se mostra como corpo, como humano. O Cristo de Gibson pode ser obra de um fanático, sem dúvida, mas esse fanático sabe que nós já não acreditamos em nada.


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