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Espetáculo faz Ofélia renascer das águas
Em "Labirinto d'Água", Raquel Ornellas busca dissociar a personagem de "Hamlet" da imagem de suicida
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ah, eu não gostei não. Parece que a mulher vai tirando a alma dela", disse à intérprete um
garoto de 5 anos após ensaio
aberto na periferia leste de São
Paulo, no ano passado.
"Ele nunca leu "Hamlet", mas
tocou Ofélia profundamente",
afirma a atriz Raquel Ornellas,
38, protagonista do solo de dança-teatro "Labirinto d'Água", a
partir de hoje no Tuca, inaugurando a sala Ensaio do espaço
de Perdizes.
Ornellas ambiciona, por
meio da arte, dar outro destino
à personagem coadjuvante da
tragédia de Shakespeare, comumente associada à imagem
da sofredora, suicida que morre
afogada, enlouquecida após os
abandonos sucessivos pelo
amante (Hamlet), pelo pai (Polônio) e pelo irmão (Laertes).
"A vida dela nunca foi na terra, mas na água. [Gaston] Bachelard escreveu que Ofélia seria uma ninfa da pátria das
águas mortas ou uma ninfa da
pátria das águas vivas", afirma a
atriz, que conta com supervisão
dramatúrgica e roteiro de Alessandro Toller.
Para ilustrar esse espaço vital
(líquido amniótico), sentido de
fertilidade que Zé Celso também reforçou em seu "Ham-Let" (1993), Ornellas incorpora
técnicas de dança na água, como os movimentos de watsu
(exercícios terapêuticos) e wassertanzem (técnica alemã de
dança submersa).
Em sua concepção e direção
do solo, Ornellas não faz uso literal da água. Esta é sugerida
pela gestualidade, pela trilha
incidental ou de outros compositores criada por Laércio Resende (a cantora Ceumar interpreta para a peça duas trovas
populares dos séculos 19 e 20).
Ao simbolismo fantástico do
renascimento de Ofélia na
água, o espetáculo contrapõe o
mundo real por meio do salgueiro, a árvore cenográfica
que antagoniza com a personagem. É dali que "um galho invejoso" a teria levado à fatalidade,
fazendo-a cair no rio
Ornellas já havia visitado
Shakespeare nos anos 90 numa
releitura de "Macbeth", cujo
processo é dissecado no livro
"Caldeirão de Bruxas - De Como Macbeth Virou Irmãs do
Temp" (ed. Edusp, 320 págs.,
R$ 72). O lançamento será no
dia 22/5, na Livraria da Vila (r.
Fradique Coutinho, 915, tel. 0/
xx/11/3814-5811).
LABIRINTO D'ÁGUA
Quando: estréia hoje, às 19h; sáb. e
dom., às 19h. Até 10/6
Onde: Tuca - sala Ensaio (r. Monte Alegre, 1.024, Perdizes, tel. 0/xx/11/3670-8455)
Quanto: R$ 30
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