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Crítica/erudito
Com convidados alemães, Osesp faz bom retorno a SP
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
A Osesp está de volta depois da turnê européia;
e a temporada de concertos finalmente começou.
Começou bem: Strauss (1864-1949) e Mahler (1860-1911), regidos pelo maestro alemão
Christoph Poppen, com a soprano Julianne Banse, quinta-feira na Sala São Paulo.
Banse é um dos nomes de
ponta da cena musical alemã.
Entre outras coisas, gravou "Fidelio" com a Filarmônica de
Berlim regida por Simon Rattle
e a "Quarta Sinfonia" de Mah-ler com a Orquestra de Cleveland regida por Pierre Boulez.
Também canta música contemporânea (Kurtág, Holliger)
e faz música de câmara (canções de Schubert com o pianista Maurizio Pollini).
Sentimentalidade
Ela veio a São Paulo para fazer as "Quatro Últimas Canções" (1948), de Strauss, celebérrimo ciclo sobre versos de
Eicherdorff e Herman Hesse.
São canções que tocam num limite do que a música pode dizer: o limite, justamente, a intuição de uma passagem para o
nada, ou para o tudo.
Tanto Banse quanto seu marido, o maestro Poppen, são artistas de grande elegância. São
do time de Apolo. Deram ao
Strauss um tom inteiramente
livre de sentimentalidade, só
aquecido de dentro pelas afinações perfeitas da voz.
Que o próprio Strauss não
era livre de sentimentalidade é
o mínimo que se pode dizer de
um compositor tantas vezes no
limite não do nada, mas do
kitsch. O efeito, afinal, foi curioso: a música tinha tudo a ganhar, mas será que não perdeu
alguma coisa também? As
"Canções" soaram lindas, mais
rápidas e menos portentosas
do que de hábito. E um pouco
mais frias.
Depois veio a "Quinta" de
Mahler, que a Osesp já tocou
várias vezes. Além de regente
da Orquestra de Câmara de
Munique, Poppen é violinista,
membro do Quarteto Cherubini e afeito a incursões pelo violino barroco -como na histórica gravação da "Partita nš 1" de
Bach (ECM, 2001).
Quer dizer: é um músico-ensaísta, de temperamento crítico e moderno. Visto de costas
(da platéia), é relativamente comedido, sério, quase sóbrio.
Visto de frente (do coro), aparece bem mais expansivo,
abrindo olhos e boca, vibrando
a batuta. Também menos intenso: mais concentrado do
que entregue.
Entre o segundo e o terceiro
movimentos, fez um discreto
gesto positivo com o polegar
para o trompista Ozéas Arantes
-a grande estrela da noite.
Regida por Poppen, a "Quinta" teve muitos bons momentos. A paródica valsa em "pizzicato" no "Scherzo", por exemplo; e o grande coral de metais
no fim, com as suspensões
caindo em cadeia, como se ainda fosse possível celebrar alguma glória no mundo em pedaços. Se não chegou a ser memorável, isso fica na dívida do primeiro concerto efetivo da temporada paulista, que começa
tarde, mas começa bem.
OSESP COM CHRISTOPH POPPEN E JULIANNE BANSE
Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Julio Prestes, s/nš, tel. 0/xx/11/3223-3966)
Quanto: de R$ 25 a R$ 89
Avaliação: bom
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