São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

L'Arte del Mondo mostra a evolução artesanal de Mozart

Orquestra de câmara apresentou na Sala São Paulo quatro obras do período de formação do compositor

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Talvez não haja estilo musical mais distante dos ouvidos do século 21 do que o classicismo: não está afastado o bastante para soar exótico (como a música medieval) nem busca empatia na representação de afetos típica do barroco.
O clássico do final do século 18 ainda recusa o virtuosismo romântico, a estética do excesso que tem forjado nossa visão de mundo e nosso gosto.
Por isso pode ser uma experiência rica -para nós, hoje- ouvir um programa inteiramente dedicado a Mozart (1756-1791), ainda mais quando interpretado por um grupo que trata sonoridade e forças instrumentais a partir dos conceitos da época.
Foi o que fez a orquestra de câmara L'Arte del Mondo regida por Werner Ehrhardt no concerto de abertura da temporada do Mozarteum Brasileiro, anteontem na Sala São Paulo.
As quatro obras apresentadas mostram a evolução artesanal do compositor de Salzburg tomando como base os divertimentos para cordas (K.138 e K.136), escritos por um jovem de 16 anos.
A sofisticação singela e natural dessas peças permitiu à L'Arte del Mondo -que, apesar do nome, é de origem alemã- mostrar o seu melhor. O grupo atuou com cinco primeiros violinos, quatro segundos (posicionados em lados opostos do palco), duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo (recheando o centro).
Ao contrário da visão hollywoodiana do compositor, sua genialidade é tardia. Nos anos de formação ele busca sobretudo a excelência dos gêneros, mas a maturidade pode ser antevista nas outras obras do programa.
Poderia ter havido um pouco mais de interação entre o tempo da orquestra (acrescida de duas trompas naturais e dois oboés) e o da jovem violinista Baiba Skride (nascida na Letônia), que solou o "Concerto nº 4" para violino com um Stradivarius construído 50 anos antes de Mozart escrever a obra.
Tanto no concerto quanto na "Sinfonia Concertante" para violino e viola K.364 - na qual dividiu o palco com a ótima violista Corina Golomoz - Skride manteve-se sempre atenta à leveza do estilo, o que só ressaltava os matizes graves de seu instrumento.
E o público, que aplaudia a tudo respeitosamente, só explodiu em gritos quando as duas solistas, no bis, largaram de vez o classicismo para mergulharem nos riscos barrocos da "Passacaglia" de Haendel (1685-1759).

MOZARTEUM BRASILEIRO

AVALIAÇÃO bom


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: "Velozes e Furiosos 5" destaca Rio corrupto e irreconhecível
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.