São Paulo, terça, 14 de abril de 1998

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Ska

Skatalites contam em CDs a saga do ritmo jamaicano

SÉRGIO MARTINS
especial para a Folha

Dois lançamentos são importantes para se entender que o ska está além de modismos ou bandas que tenham loiras como vocalista: são eles "Foundation Ska" e "Ball of Fire", ambos do grupo Skatalites.
Essa trupe esteve por trás dos grandes artistas da Jamaica e sua dissolução fez crescer ritmos como rock steady e o reggae.
A banda era formada por músicos de jazz, que no final dos anos 50 e início dos anos 60 viram seu ganha-pão minguar com o surgimento dos sound-systems (espécie de discoteca ambulante, equivalente às radiolas do Maranhão). Sem espaço para tocar seu estilo musical preferido, investiram em bailes regados a rhythm "n' blues americano. Do cruzamento desses dois estilos musicais nasceu o ska. A banda era formada pelos guitarristas Jah Jerry, Ernest Ranglin (apenas em estúdio) e Harold McKenzie, Lloyd Knibbs e Lloyd Brevett (bateria e baixo, respectivamente), o pianista Jackie Mittoo e os metais de Tommy McCook, Roland Alphonso e Lester Sterling (todos saxofone) e Johnny "Dizzy" Moore (trompete). O destaque era o trombonista Don Drummond, apreciado por grandes nomes do jazz americano -como a cantora Sarah Vaughan-, mas cujo fim trágico abortou a carreira dos Skatalites.
"Foundation Ska" aborda o período mais criativo da banda, quando ela estava a serviço do produtor Clement "Coxsone" Dodd. Os Skatalites se dividiam na criação de faixas dançantes no trabalho de banda da casa. Drummond era o diretor musical dos artistas, fazendo-os ensaiar até que estivessem no ponto.
A época áurea da banda durou até a prisão de Don Drummond. O gênio e maestro dos Skatalites foi também um dos primeiros músicos jamaicanos a abraçar a filosofia rastafari, mas era doido de carteirinha. Um dia, após uma discussão áspera com a namorada, a dançarina de cabaré, Marguerita, ele retalhou a menina a navalhadas. Preso e confinado numa instituição para doentes mentais, ele morreu em 1969.
A morte de Drummond precipitou o fim dos Skatalites. O grupo passou as décadas seguintes recebendo homenagens até se unir novamente nos anos 60. Solta alguns discos, nem sempre com sua formação histórica. O mais recente deles é "Ball Of Fire", que pelo menos traz Lester Sterling, Rolando Alphonso, a seção rítmica formada por Lloyd Knibb e Lloy Brevett e a guitarra de Ernest Ranglin.
O CD abre com versão original para "James Bond Theme", que dá de dez a zero nas releituras modernosas. Os Skatalites homenageiam o patrono Drummond em "Ball Of Fire" e brincam com ritmos caribenhos em "Latin Goes Ska".
Se pelo menos não traz nenhuma novidade sonora (apesar dos solos de Ranglin serem uma atração à parte), os Skatalites se mantêm fiéis aos dogmas de início de carreira: produzem músicas para dançar, com alguns dos grooves e metais mais federais ouvidos na história do reggae. E numa época em que as paradas "ska" são dominadas por nulidades como No Doubt ou alguma picaretagem sueca isso ainda vale - e muito.


Sérgio Martins é editor da revista Showbizz.


Discos: "Fundation Ska" e "Ball of Fire", dos Skatalites Quanto: R$ 44 e R$ 22, respectivamente, em média


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