São Paulo, terça, 14 de abril de 1998

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ANÁLISE
Maturidade leva ator impor-se ao galã

da Redação

Carlos Alberto Riccelli é o tipo do ator que só tende a ganhar com a maturidade.
Um pouco como Burt Lancaster, Riccelli já foi um galã extremamente físico e de certa forma confinado pela beleza física e pelo jeito de sedutor a papéis quase sempre superficiais.
Talvez seu melhor momento no cinema tenha sido em "Eles Não Usam Black-Tie", de Leon Hirzsman (1982). Ali, ele passava por coadjuvante, num elenco que tinha Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Bete Mendes, mas Riccelli sobressaía-se em grande parte graças ao fato de fazer o vilão, o operário sem consciência de classe.
O ator explica que sua boa presença talvez se tenha devido, ali, ao fato de não jogar contra o personagem, de tentar fazer o espectador compreender o jovem arrivista, em vez de odiá-lo.
Em "Ele, o Boto", de Walter Lima Jr. (1986), a ênfase foi mais para a comédia. Ainda assim, o que se explorava era, antes de tudo, a imagem do sedutor.
Em "Sonho sem Fim" (1987), de Lauro Escorel, fazia Eduardo Abelim, pioneiro do cinema gaúcho e, essencialmente, um aventureiro.
Mais de uma década depois, "Dois Córregos" pode significar um salto de qualidade em sua carreira. Os desafios propostos pelo papel são muitos, a começar pelo fato de Hermes ser um homem maduro e retraído, constrangido a conviver com duas adolescentes -um choque de mundos ao quadrado.
Mas, ao mesmo tempo, o papel de ex-guerrilheiro o coloca numa outra dimensão afetiva. O conquistador de olhar fulminante cede lugar ao solitário suspenso entre o passado e o presente, e cujos olhos parecem voltados, antes de tudo, para dentro de si mesmo.
Os anos nos Estados Unidos parecem ter servido ao aprimoramento do ponto fraco de Riccelli, a voz, que hoje parece fazer parte da mesma pessoa -o que no passado não se sentia em inúmeros momentos.
Mas é fazendo o homem que trocou a família pela política e esta pela música (que de certa forma representa um reencontro com seu passado) que Riccelli pode começar a esquecer a imagem do galã e, chegando aos 30 anos de carreira em TV, teatro e cinema, impor-se definitivamente como ator. (IA)



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