São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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FESTIVAL DE CANNES

Cidade dos sonhos

Reuters
Cena de "Hollywood Ending", nova sátira de Woody Allen, que inaugura o 55º Festival de Cannes



Com uma das seleções mais políticas dos últimos anos, mostra abre amanhã exibindo sátira de Woody Allen


ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Sob os efeitos de 11 de setembro, dos conflitos no Oriente Médio, do avanço da extrema direita de Le Pen na França e da ebulição de boa parte do mundo, o Festival de Cannes faz de sua 55ª edição uma das mais políticas e estimulantes dos últimos anos -política da vida real e também do cinema, como arte e indústria.
A abertura oficial, amanhã, será com uma sátira de Woody Allen, "Hollywood Ending", sobre um diretor que fica cego e realiza o seu filme sem que ninguém perceba o problema.
O presidente do júri deste ano é David Lynch, cujo "Cidade dos Sonhos" foi desprezado pelos produtores nos EUA e financiado pelos franceses. Pela primeira vez, Cannes exibirá um filme da famosa Bollywood, como é chamada a indústria indiana de cinema, a maior do mundo ao lado da americana: "Devdas", de Sanjay Leela Bhansali.
Na mostra competitiva, Amos Gitai apresenta "Kedma", sobre a chegada dos primeiros judeus ao Estado de Israel, em 1948, e Elia Suleiman mostra "Intervention Divine", história de casal que enfrenta as fronteiras da guerra.
Os ingleses Mike Leigh e Ken Loach encaram temas da realidade britânica em "All or Nothing" e "Sweet Sixteen". Michael Moore aborda a tragédia da escola Columbine, onde dois alunos mataram 12 colegas (1999), em "Bowling for Columbine". Roman Polansky filma a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra em "The Pianist".
Na seleção oficial não competitiva, o Holocausto também é tema de "A Última Carta", de Frederick Wiseman. Francesca Comencini reconstitui a trajetória do estudante morto em 2000 nas manifestações antiglobalização de Gênova em "Carlo Giuliani, Jovem". Em "Ararat", Atom Egoyan fala do genocídio de armênios.
Os brasileiros selecionados para o festival são enfaticamente sociais: "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, sobre tensões na favela carioca, e "Madame Satã", de Karim Aïnouz, sobre o mitológico travesti dos anos 30.
O cineasta e colunista da Folha Walter Salles será um dos jurados da mostra competitiva (leia nesta página). Outro brasileiro, Amir Labaki, diretor do festival de documentários É Tudo Verdade, integra o júri da crítica internacional.
A competição oficial terá presença de novos filmes de David Cronenberg ("Spider"), de Manoel de Oliveira ("O Princípio da Incerteza"), Abbas Kiarostami ("Ten"), Marco Bellocchio ("L'Ora di Religione") e Alexandre Sokourov ("Russian Arc").
A força pop do festival também está assegurada na mostra competitiva com a presença do americano Paul Thomas Anderson (a comédia "Punch-Drunk Love"), do francês Olivier Assayas ("Demonlover") e do inglês Michael Winterbottom, com "24 Hour Party People".
Os franceses Jacques Tati (1908-1982) e Alain Resnais, 70, serão os homenageados do festival. Martin Scorsese apresentará 20 minutos apenas de seu novo filme, "Gangues de Nova York".
Cannes fará a estréia européia de "Star Wars Episódio 2 - O Ataque de Clones", a saga obsessiva de George Lucas.


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