São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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Evento debaterá pluralização, diz Salles

DO ENVIADO A CANNES

O diretor Walter Salles participa do júri desta edição de Cannes, ao lado dos realizadores David Lynch (EUA), que presidirá o grupo, Raoul Ruiz (Chile), Bille August (Dinamarca), Claude Miller (França), Régis Wargnier (França) e Christine Hakim (Indonésia) e das atrizes Sharon Stone (EUA) e Michelle Yeoh (China). Salles fala, a seguir, das características do festival neste ano e do significado de Cannes para o cinema mundial. (ALN)

Folha - O que deve marcar o Festival de Cannes deste ano?
Walter Salles -
Deve ser um festival com uma conotação política acentuada, não só pelo susto ocorrido nas eleições francesas, mas também pelo debate em torno da exceção cultural na França, a partir da crise no Canal Plus.
O que está em jogo hoje é a defesa da diversidade audiovisual. E Cannes é justamente isso: é o debate a respeito da pluralização da cultura e da necessidade de resistência. De um lado, temos todos aqueles que defendem a necessidade de um cinema europeu financiado pelo Estado, ou regulamentado por ele, que é a única forma de assegurar uma diversidade de expressão. De outro, os que, como Jean-Marie Messier, presidente da Vivendi-Universal e proprietário do Canal Plus, pregam o contrário, ou seja, um alinhamento da produção cinematográfica francesa e européia com o mercado.
A presença de David Lynch na presidência do júri aponta nessa direção, já que foi ele quem capitaneou as assinaturas de dezenas de cineastas contra o fim da exceção cultural e contra as possíveis mudanças no Canal Plus.

Folha - Seus próprios filmes foram produzidos com participação francesa, não?
Salles -
Sim. Desde "Central do Brasil" que os filmes que tenho feito têm participação direta ou indireta da França, como no caso de "O Primeiro Dia", produzido com a emissora Arte, "Central do Brasil", com o Canal Plus, e "Abril Despedaçado", feito com a produtora Bac Films. Mas boa parte do que se faz de interessante, de Lynch a Theo Angelopoulos, passa pela França, e não só pelos 150 filmes que o país lança por ano.

Folha - Cannes é um festival antiamericano?
Salles -
Oitocentos filmes são submetidos ao festival, aspirando a serem exibidos em Cannes. Isso prova que toda a cinematografia quer fazer parte do evento, seja ela iraniana, americana, chinesa ou brasileira. Uma outra tendência interessante deste festival é o interesse pelo cinema latino-americano. Dois filmes de cineastas jovens argentinos estarão neste ano em mostras não competitivas, "El Bonaerense", de Pablo Trapero, e "Un Orso Rojo", de Israel Adrian Caetano. Há também dois filmes de jovens realizadores brasileiros, "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, e "Madame Satã", de Karim Aïnouz. Se lembrarmos que Raoul Ruiz vem do Chile, embora esteja filmando há 20 anos na França, teremos dois latino-americanos no júri. O Festival de Cannes tem olhado a América Latina cada vez com mais atenção.


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