São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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"MINHA VIDA SEM MIM"

Drama foge da pieguice com elogio ao banal

FABIO DIAZ CAMARNEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Histórias de mães sofredoras são um convite às lágrimas. Em "Minha Vida sem Mim", uma personagem chora diante da TV, que exibe "Almas em Suplício", filme de 1945 com Joan Crawford no papel principal.
A referência não é gratuita. "Minha Vida" também tem uma mãe sofredora, Ann. Ela é jovem, pobre e vive com duas filhas pequenas e o marido em um trailer. Sua mãe é uma das pessoas mais ranzinzas que conhece e seu pai está há dez anos na cadeia. Para piorar, Ann descobre ter um tumor incurável e dois meses de vida.
Em outras mãos, esse argumento poderia gerar um dramalhão digno de "Almas em Suplício". Mas o filme de Isabel Coixet resolve escapar da pieguice com uma fórmula simples: contra a solenidade da morte, celebram-se as pequenas trivialidades da vida. Resolve abrir mão das lágrimas para celebrar o comezinho. Assim, logo após descobrir a gravidade de seu estado de saúde, Ann encontra conforto em balas de gengibre.
Esse elogio da trivialidade continua quando ela faz uma lista com "coisas a fazer antes de morrer". Ao lado de itens que revelam um desejo de permanência (gravar mensagens para cada aniversário das filhas) ou uma anulação de si mesma (arrumar uma nova mulher para o marido), há coisas como "colocar unhas postiças".
Mas talvez a única coisa banal aqui seja o próprio filme. Durante suas últimas semanas de vida, além de um romance com um quase desconhecido, temos críticas ingênuas ao consumismo e à banalidade da indústria cultural.
Mas, se os produtos nas prateleiras dos supermercados servem para nos fazer "esquecer" da morte, não é "Minha Vida sem Mim" que consegue impor a presença da "iniludível". Apesar de Sarah Polley construir uma Ann carismática, muitos continuarão preferindo os dramalhões lacrimosos estrelados por Joan Crawford.


Minha Vida sem Mim
My Life without Me

  
Direção: Isabel Coixet
Produção: Canadá, 2003
Com: Sarah Polley, Scott Speedman
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Cineclube DirecTV e Frei Caneca Unibanco Arteplex



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